Por Linhas Comunicação
Sucesso de outros carnavais, João Roberto Kelly continua compondo e conquistando gerações
Ele conhece de perto a cabelereira do Zezé, a Maria Sapatão e a Mulata Bossa Nova. Personagens comuns do cotidiano carioca que ganharam vida graças à genialidade musical de João Roberto Kelly, compositor considerado o rei das marchinhas de carnaval. Filho do escritor e jornalista Celso Octávio do Prado Kelly, João Roberto começou cedo na carreira, incentivado pela mãe Luzia Kelly. “Cresci ouvindo muito piano e, por conta disso, iniciei na música tocando de ouvido. Aos 11 anos me deram professores e não parei mais. O instrumento me levou à composição porque eu não me contentava em apenas tocar as melodias, eu queria fazer a música também”, lembra.
Os anos se passaram e, na década de 60, o jovem começou a escrever definitivamente seu nome na história da música. Enquanto artistas consagrados da época gravavam canções de sua autoria – entre eles Elza Soares e Elizete Cardoso –, Kelly também conquistou um espaço na TV. Em 1963 foi levado pelo pianista Luís Reis para TV Excelsior. Um ano depois foi convidado por Chico Anísio e Carlos Manga para musicar o humorístico Times Square. “Sempre compus todos os gêneros de música. Trabalhei na TV musicando shows e fiz muitas canções românticas”, conta.
Mas havia uma paixão que João Roberto Kelly não conseguia esconder. Carioca, desde garoto era um folião de primeira, apaixonado pelas marchinhas. E foram elas as responsáveis por consagrá-lo como o rei dos carnavais. “Eu compunha marchinhas desde criança, mas em 62 comecei a compor com intuito de gravação”, explica. “Em 1963 nasceu “Cabelereira do Zezé”, em parceria com Roberto Faissal, até hoje um dos meus maiores sucessos”.
João Roberto lembra que a música foi composta para um garçom cabeludo de um bar no Leme que usava um penteado estilo Beatles. “Fui tomar um chopp e encontrei esse garçom. Olhei para ele e disse que se eu fosse um cartunista, faria um desenho. Mas como não era, eu ia fazer o que eu sabia: música”, afirma. “A cabeleira do Zezé foi uma sátira à moda dos Beatles. A banda inglesa influenciou tanto os costumes que acabou virando marchinha”, brinca.
Outro personagem real que virou canção na habilidade de Kelly foi a Miss Guanabara de 1964, Vera Lúcia Couto dos Santos. Primeira negra a ganhar um título de beleza no Brasil, a musa se tornou a Mulata Iê-Iê-Iê dos carnavais. “Assisti ao desfile e achei a Vera maravilhosa. Ela estava lá linda, rodopiando feito um pião, com uma ginga diferente, muito menos de samba e muito mais de discoteca. Ela chamou minha atenção e por isso fiz a música, que, inclusive, venceu, em 1965, o carnaval do quarto centenário carioca”, lembra.
Reconhecimento
Uma espécie de cronista musical do dia a dia, o portfólio de letras de João Roberto Kelly atravessa, há décadas, as gerações. “A maior alegria que tenho na vida é constatar que minhas músicas vão passando de pai para filho. Quando eu vou assistir a um bloco ou baile infantil e vejo as crianças cantando penso que mais uma geração que está vindo conhece e gosta das minhas marchinhas”, diz emocionado. “Ganhei prêmios, muitos troféus, mas são nos momentos em que eu vejo a felicidade das pessoas cantando as minhas músicas que me sinto realmente realizado”.
O reconhecimento da importância das marchinhas ganhou destaque no carnaval 2015. A escola paulistana Acadêmicos do Tucuruvi homenageou o ritmo no desfile deste ano, com o enredo “Entre Confetes e Serpentinas, Tucuruvi Relembra as Marchinhas do Meu, do Seu, do Nosso Carnaval”. Na letra, diversas alusões às inesquecíveis canções de Kelly.
Em 2014, as músicas do compositor o colocaram, pelo oitavo ano seguido, no topo da lista de compositores que mais receberam direitos autorais no Carnaval, segundo o ranking elaborado pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Por conta disso, Kelly ressalta a importância de sua parceria com a ABRAMUS. “Acho a ABRAMUS uma sociedade moderna, que está acompanhando toda a evolução do direito autoral e me inspira toda a confiança. Eu estou realmente satisfeito com o trabalho da associação”, afirma.
Na estrada
Aos 76 anos, João Roberto Kelly continua compondo marchinhas e tem muito material inédito guardado. Aliás, o músico revelou em primeira mão que já está em estúdio trabalhando um CD que deve sair ainda este ano, mostrando seu lado mais romântico. “Tenho planos de continuar compondo e fazendo música bonita. Vou lançar algumas canções românticas este ano em um disco que já estou preparando. Também vou trabalhar em outro álbum com todas as músicas de carnaval, que deve sair mais para o fim do ano, no qual vou fazer uma mescla de sucessos e inéditas”, adianta.
“Todo esse tempo de trabalho repercutiu em novas ideias e novas fórmulas para apresentar as marchinhas. O segredo é estar sempre em movimento e não parar nunca”, finaliza.