Publicado em 15/02/2023.
Não tem como falar do carnaval brasileiro sem falar das marchinhas. Originadas ainda com os primeiros blocos do país, ajudaram a tornar a festa até então europeia, em verdadeiramente brasileira, esbanjando alegria e ritmo animado.
É sobre a história deste importante feito para a nossa cultura e identidade nacional que vamos nos debruçar hoje, levantando curiosidades e homenageando as personagens que ajudaram a construir esta história, ao semear as fundações originárias da grande festa que temos na atualidade.
As marchinhas surgiram junto dos primeiros blocos brasileiros, no Rio de Janeiro, no século XIX e ajudaram a popularizar e “abrasileirar” uma festividade importada da Europa, um tal de CARNAVAL. O nome vem da forma de andar dos soldados, a marcha, mas não tem nenhuma relação com os militares na sua criação. O motivo está nas batidas das marchinhas de carnaval, que são bem características e tem semelhanças com as fanfarras militares.
Sua precursora é a chamada marcha portuguesa, ritmo importado popular na época, de quem herdou esta cadência militar, além do característico compasso binário. Só que um ritmo só se torna genuinamente brasileiro quando faz uso da miscigenação musical na sua concepção. E foi englobando as características do samba (já um ritmo reconhecidamente formado por várias matrizes distintas) que as marchinhas se consolidaram, apresentando um ritmo mais intenso e festivo que sua antecessora.
Ela também se caracteriza bastante pelas composições que tomam como base um retrato fiel de algumas situações vivenciadas no cotidiano social, o que constantemente a leva a abordar temas abrangentes como política, amor, profissões, preconceitos e, até mesmo, homenagens.
As marchinhas vieram primeiro e são pensadas para os foliões de rua e de bailes. É facilmente reconhecida pela velocidade do ritmo e pela repetição de refrões. Esse “looping” musical é inspirado pela dança em círculos característica dos primeiros bailes de carnaval.
Já o samba-enredo, que surgiu com as primeiras escolas de samba do Rio de Janeiro (décadas após as primeiras marchinhas), é mais profundo nas temáticas que aborda, se desenvolvendo em uma narrativa mais completa. O samba-enredo faz alusão ao desfile pela passarela, em uma história linear que vai sendo construída até o ápice no refrão ao final.
A primeira marchinha foi composta em 1899 por Chiquinha Gonzaga e continua sendo uma das mais populares. Você já deve ter entoado os versos de “Ó abre alas” em algum bloquinho por aí, mas saiba que ela foi composta sob encomenda, com a missão de alegrar o histórico cordão carnavalesco Rosas de Ouro. Outros nomes da época também souberam fazer a transição da marcha portuguesa para a marchinha brasileira, saindo de sucessos como “Vassourinha” de 1912 e “a baratinha” de 1917, para obras de melodia mais simples, letras mais maliciosas e temáticas mais nacionalizadas como as compostas e entoadas por Sinhô, Eduardo Souto e Freire Júnior.
Falando em personalidades do gênero, tem um nome que não podemos esquecer. João Roberto Kelly é conhecido como o “Rei das Marchinhas” por ter um grande número delas em suas composições e por ser recordista de arrecadação de direitos autorais quando chega o período de Carnaval. Entre suas inúmeras obras destacamos alguns exemplos: “Mulata iê-iê-iê”, “Maria Sapatão”, “Colombina”, “Bota a Camisinha”, “Dor-de-cotovelo”, “Israel”, “Pororopó-pó”, “Cabeleira do Zezé” e “Dança do bole-bole”.
Certamente você se animou e talvez tenha até se inspirado em escrever a sua própria marchinha. Pois saiba que nesta tradição centenária as características se tornaram tão marcantes que é possível identificar quase um “check-list” básico para produzir uma marchinha de carnaval verdadeira.
Agora tá fácil! Ponha a cabeça para funcionar e pode começar a criar as suas próprias marchinhas. O carnaval já está aí e o que não faltam são bons temas para a gente abordar e transformar em festa.