Publicado em 08/01/2023.
Por Belinha Almendra
Cantor, compositor, instrumentista e arranjador surgido na onda da bossa nova, nos anos 1960., Marcos Valle compôs clássicos como “Samba de Verão”, “Viola Enluarada” e “Preciso aprender a ser só”. Reverenciado pelas novas gerações, no Brasil e no exterior, Marcos Valle conversou com a Abramus. Confira o bate-papo exclusivo.
1 – Seu mais recente álbum, “Cinzento”, tem parcerias com vários artistas. Recentemente, você participou do novo single do quinteto Jovem Dionísio. Essa troca com as novas gerações é fundamental para a sua música?
O disco Cinzento tem parcerias com Emicida, Moreno, Bem Gil, Domenico Lancellotti, Alexandre Kassin. Eu gosto muito de estar com esse pessoal de outras gerações. No caso do Jovem Dionísio também: eu adorei o trabalho deles, me faz um grande bem. Esses músicos sempre me procuram, mas eu também procuro por eles: é muito interessante trocar ideias com pessoas de gerações diferentes. Logicamente eu estou falando de pessoas que eu admiro, porque se não gostar, não faço. Gosto quando essa nova geração se aproxima, como foi o caso da Liniker. Eu tenho necessidade de estar criando coisas novas, é o meu combustível.
2 – Em 2022 você retomou as suas apresentações no exterior. Qual público lhe parece mais receptivo à sua música?
Terminada essa etapa da pandemia, as coisas começaram a acontecer muito rapidamente. Minha primeira turnê foi na Austrália: sete apresentações em festivais importantes de música, sempre lotados, porque o público também estava ávido por sair e festejar. Da Austrália fui para Los Angeles e depois segui em uma grande turnê pela Europa: foram doze shows, em vários países.
É difícil dizer qual é o melhor público: na França, por exemplo, fiz dois shows lotados, todo mundo de pé. Na Inglaterra, a mesma coisa. Na Europa, o público que gosta da minha música tem muito em comum: é jovem, conhece tudo e é muito animado, o que me traz também muita energia no palco.
3 – Você foi um dos protagonistas do show, já histórico, que celebrou os 40 anos da Abramus, ao lado de Carlos Lyra, Roberto Menescal, João Donato e Leila Pinheiro. A bossa nova se mantém atual e reverenciada, aqui e lá fora?
Esse show foi muito bonito, veio de um disco que nós gravamos juntos: Menescal, eu, João Donato e Carlinhos Lyra. Depois do relançamento, criado pra comemorar os 50 anos da bossa nova, em 2008, começamos a fazer vários e esse foi muito especial. A bossa nova continua muito forte lá fora, sim, eles adoram. No meu caso, eu comecei na bossa nova mas meu estilo é muito variado: tem um lado pop, um lado jazz, um lado mais funkeado, mais black, mas o elemento da bossa. Ela é muito respeitada até hoje, muito referenciada, não tenha dúvida.
4 – Em setembro de 2023 você entra para a galeria de artistas que já completaram 80 anos. Qual o segredo da juventude que transparece em você e na sua música? Já está pensando em projetos para comemorar a data?
Pois, é… também estou chegando aos 80. E chego muito grato por tudo: 60 anos de carreira é muita coisa! É bom demais continuar sendo requisitado, aqui e lá fora, fico extremamente feliz com isso. Eu acho que o segredo dessa jovialidade é a alegria, o privilégio de poder trabalhar com música, algo que eu amo fazer. A música me possibilita estar em contato com o novo, com novas gerações, e isso é totalmente estimulante. A alegria e a gratidão pelo que eu faço são as responsáveis pelo apreço que eu tenho pela vida. Já temos várias ideias para o ano que vem, queremos fazer muita coisa, mas eu estou deixando rolar: ainda tenho muita coisa para pensar e fazer aos 79! (risos)
5 – Se tivesse que criar uma playlist com 10 músicas suas (em parceria ou sozinho), de várias fases da sua carreira, quais escolheria?
A minha lista seria assim:
