Publicado em 02/12/2022
Assim como boa parte daquilo que nos identifica como um povo e uma nação, o samba tem uma origem de luta e miscigenação. É esse passado de resistência e sua trajetória até se tornar o símbolo nacional da brasilidade que visitamos hoje neste dia de festa. Pode puxar um pandeiro, um surdo e um tantã, que a história (e a festa!) vai começar.
Não é segredo que o samba tem sua origem na África e chegou ao Brasil durante a colonização como manifestação cultural dos povos africanos escravizados. Acredita-se que o ritmo tem origem antes mesmo do desembarque em terras tupiniquins, ainda nos porões dos navios negreiros, conhecido como “semba”, que significa “umbigada”, e tratava-se uma dança de roda que funcionava como um escape para os terrores que se viviam em tal situação abjeta e já trazia elementos que marcariam para sempre o gênero.
Já no Brasil, mais especificamente na Bahia de todos os santos, o samba nasce de verdade como samba-de-roda, lá pelos idos de 1860. Muito parecido com a própria capoeira, começa devagar e se torna cada vez mais forte e cadenciado, é acompanhado por um coro na repetição do refrão e geralmente aborda temas como o mar e as tradições africanas. Seu reconhecimento originário veio através da Unesco, que o tem registrado como patrimônio da humanidade.
Mal chegou à Bahia, o samba seguiu o caminho que os escravizados faziam pelo país e desembarcou no centro do Rio de Janeiro. Foi nessas terras, onde havia o maior tráfico negreiro do mundo, que ele criou raízes e se desenvolveu até ser o que conhecemos hoje, porém, não sem muita luta.
Por décadas marginalizado, ao ponto de correr o risco de prisão aqueles que fossem pegos cantando ou dançando samba, o ritmo continuou se transformando e evoluindo, se reinventando em sub-gêneros (veremos mais a seguir) e finalmente saindo da obscuridade para alcançar o lugar de destaque que tanto merece. Essa mudança se dá em grande parte ao plano da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, que entre as décadas de 1930 e 40 se empenhou em construir uma identidade nacional, buscando símbolos culturais que pudessem ser identificados como parte proprietária da nossa brasilidade.
Mudando-se completamente o foco do olhar que se dava ao samba, isso permitiu que ele tivesse a liberdade para florescer e ganhar o mundo, agregando novos elementos da nossa cultura diversificada e apresentando novas facetas como:
Fundamentado sobre o ritmo das palmas, que deram espaço para os instrumentos de percussão (surdo, pandeiro, tantã, tamborim, etc), o samba preserva a característica original de ser aberto e diverso. Incorporou em sua trajetória os instrumentos de corda (cavaquinho e violão) na sua harmonia e outros como flauta, piano e saxofone no desenvolvimento de novos estilos e roupagens que o caracterizam como símbolo da rica música brasileira no mundo.
É difícil escapar do clichê, mas, após toda essa história, é difícil não dizer que: quem não gosta de samba, bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça, ou doente do pé!