Publicado em 20/10/2022.
Com raízes indígenas, africanas e européias, a Música Popular Brasileira é um rico tesouro da nossa cultura que está sempre em evolução. Sua origem oficial nos remete ao século XIX, quando, influenciados pelo Lundu trazido pelos escravizados sequestrados da África, a Modinha popular nas cortes européias e a musicalidade ancestral dos povos originários, novos ritmos como o Chorinho, a Polca e o Maxixe nasciam por todo o país.
Porém, só se tornou uma identidade nacional de fato quando Chiquinha Gonzaga ousou enfrentar os preconceitos de raça e gênero e se tornou a primeira compositora da MPB e uma das criadoras do samba, talvez a nossa maior manifestação cultural original, que apesar de muito perseguida em seus primórdios, ganhou rapidamente popularidade nas periferias da capital nacional. Não é à toa que celebramos o dia da MPB no dia 17 de outubro, aniversário desta revolucionária e brilhante artista.
Décadas depois, com o samba já consolidado e menos marginalizado graças ao talento de Cartola, Dalva de Oliveira e tantos outros, um novo capítulo desta história começou a ser escrito na zona sul do Rio de Janeiro. Influenciados pelo ritmo do samba, porém com uma cadência mais suave retirada do jazz norte americano, nomes como João Gilberto, Tom Jobim, Roberto Menescal, Nara Leão e tantos outros deram vida à Bossa Nova, ritmo que se popularizou como a identidade do Brasil no mundo e deu ainda mais personalidade e popularidade à MPB.
Em uma sucessão de contínua evolução surgiu a Tropicália, encabeçada por Caetano Veloso, Gilberto Gil e seus Novos Baianos, além de outras variações como a sonoridade fora do padrão dos Mutantes de Rita Lee e dos Secos e Molhados de Ney Matogrosso.
Todos foram fundamentais durante a ditadura militar iniciada com o golpe de 64, onde a MPB se tornou instrumento de resistência ao autoritarismo do governo e está presente até hoje no imaginário popular como um importante enfrentamento através da arte.
Com a redemocratização dos inícios dos anos 90, veio também a digitalização da comunicação e a globalização de ideias e costumes. Assim, vimos o rap chegar ao país e se desenvolver especialmente em São Paulo, enquanto no Rio de Janeiro nascia o funk carioca e nos interiores do país a música caipira se consolidava como o ritmo do sertanejo em suas várias facetas.
Neste fervilhante caldeirão cultural novas camadas foram acrescentadas à MPB, que chega aos dias de hoje mais rica do que nunca, com variações tão diversas que é capaz de agradar aos mais variados gostos. Sem contrapor os polêmicos termos de Velha e Nova MPB, podemos ver que se trata da mesma coisa, que apenas sofreu modificações naturais para acompanhar a evolução cultural e social do país, se adequando ao cenário do seu próprio tempo.
Correndo o risco de parecer clichê, a MPB sempre será nova, pois têm em sua essência a mistura, a parceria. Se antes 4 ou 5 fontes foram combinadas para começar essa história, imagina onde ela poderá chegar com as dezenas (talvez centenas!) de variações de estilos e ritmos que temos hoje. Pode funk com brega, pode sertanejo com pop, pode rap com samba. Para expressar o jeito de ser dos brasileiros, na MPB, tudo pode.