Publicado em 15/07/2022.
Já vimos que o Rap traçou uma trajetória de luta e resistência desde o seu surgimento nos anos 60 (veja aqui) e que, além da sua evolução sonora, entre novas batidas e recursos técnicos mais tecnológicos, foi mudando também o discurso do movimento como um todo.
Antes mais agressivo e voltado para as críticas sociais da dura realidade periférica onde o estilo normalmente se prolifera, hoje ele encontra mensagens mais leves, se permitindo abordar outros temas e assim “conversar” com um público mais abrangente.
Parte dessa revolução pode ser creditada à entrada massiva das mulheres na cena nos últimos anos. Foram as primeiras e perceber que o embate permanente não era o único caminho para passar sua mensagem e progressivamente consolidam seu espaço e transformam o estilo em um ambiente mais amigável. Elas não deixaram a luta de lado, só souberam adotar estratégias mais eficientes e escolher melhor as suas batalhas.
Vamos então conhecer algumas dessas guerreiras do rap nacional!
A capixaba Brenda Rangel, mais conhecida como Budah, já conta com mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify, além de ter participado dos mais variados colabs, indo de Djonga à Ecologyk. Ela ganhou notoriedade em 2019 com o single “Licor” e sempre se destaca pelo som empoderado e os vocais suaves.
Brasiliense, a rapper Flora Matos lançou sua primeira mixtape em 2009, mas só em 2017 conseguiu lançar o primeiro álbum, “Eletrocardiograma”. Hoje são 3 álbuns lançados e muitos sucessos que merecem a sua atenção, como “O Jeito”, “Preta de Quebrada” e “Flora de Controle”.
Joyce da Silva Fernandes, ou melhor, Preta Rara além de rapper é professora de história, feminista e ativista. Conhecida na luta contra a subalternização das empregadas domésticas, traz no seu trabalho esse tom crítico e de resistência, somando-se também a luta contra a discriminação de mulheres gordas. A faixa “Falsa Abolição” do seu álbum “Audácia” (2015), é um belo ponto de partida.
Há um bom tempo na estrada, a paulistana integrou o grupo Mamelo Sound System no final dos anos 90. Já em 2010 lançou o primeiro single solo e desde então vem se consolidando e colaborando com outros rappers e cantores, inclusive internacionais. Os hits “Andei” e “Ping Pong” são uma bela pedida!
A carioca que pediu um skate, mas ganhou um violão, entrou na música por acaso. Com referências ecléticas, tanto no rap quanto na MPB e outros estilos, a rapper participou da edição 9 do grande fenômeno “Poesia Acústica” em 2018 e não parou mais. Adepta dos singles, tem alguns, como “Dizeres” que vão te conquistar.
Irmã do rapper MV Bill, adotou o nome da sua comunidade (Cidade de Deus) no Rio de Janeiro em seu nome artístico. Além de atuar ao lado do irmão, segue também seus projetos solo, como o álbum “Preta Cabulosa” (2017), vários singles e participações.
Não poderia faltar uma homenagem! Uma das precursoras do rap nacional, Viviane Lopes Matias, a famosa Dina Di, começou na música aos 13 anos, em 1989, ainda como guitarrista. Desenvolvendo-se como cantora e compositora na adolescência, suas rimas, que tratam de temas como violência urbana, sexismo e racismo, logo captaram a atenção.
Ganhadora do Prêmio Hutúz de 2009 como a “Artistas Solo Feminino da década”, Dina lançou 6 álbuns em parceria com o grupo Visão de Rua e certamente nos teria brindado com outros tantos trabalhos de alto nível se não fosse sua morte precoce. Em 2010, ao dar à luz a sua primeira filha, Aline, contraiu uma infecção hospitalar que infelizmente lhe tomou a vida poucos dias depois.
Felizmente sua obra persiste, perpetuando sua mensagem e inspirando outras mulheres a seguirem seus passos.