Publicado em 11/05/2022
Poeta, letrista, compositor e músico, Abel Silva está com novo livro, o 22º da carreira. “O caderno vermelho das manhãs”, está chegando às livrarias pela Editora 7 letras reunindo 72 poemas escritos durante a pandemia. O prefácio, assinado pela jornalista Regina Zappa, dá o tom da prosa: “Abel é um peregrino sem Meca… As palavras do poeta semeiam o amor, a vida cotidiana, o sonho e o chão. O medo, a dor e a beleza”.
Para marcar o lançamento, ao invés de manhã de autógrafos, Abel promoveu um encontro “pão e poesia”, na padaria Século XX, no Horto, com a presença de amigos e parceiros, que recitaram algumas de suas obras. “A padaria é um ponto de encontro da região e acho interessante a proposta de tornar o evento mais informal”, atesta.
“Estou agora/ (pouco antes das 6 da manhã) / em meu quarto/ diante do móvel, / velho companheiro, / que me possibilita/ escrever em pé, / e como em todos os dias/ abro o caderno vermelho/ e exerço meu ofício/ minha sina/ minha crença”
(O caderno vermelho das manhãs)
Letrista e parceiro de compositores consagrados da MPB, como Moraes Moreira, Sueli Costa, Roberto Menescal e João Bosco, entre outros, e com vários sucessos no currículo, Abel é POETA, em maiúsculo! Para criar seus versos, ele costuma buscar inspiração em caminhadas pelo Jardim Botânico, bairro onde mora há mais de 45 anos. Com a pandemia, ele ficou restrito ao terraço da sua casa até o Jardim Botânico ser liberado. “Foi muito difícil e eu senti muito medo. Pensava muito no dia seguinte e no perigo rondando filhos, netos, amigos e parceiros. Ia colocando as letras no papel, em um desabafo diário”, explica ele, que criou uma rotina de escrever toda manhã, em pé e de jejum.
O medo e o tempo são palavras presentes neste último trabalho, sensação que ele relata na apresentação do livro: “escrever um livro em meio a uma pandemia é um trabalho na mira do punhal da imprevisibilidade, no balanço da corda estendida sobre o buraco negro do medo, não, não é a energia feliz e confiante do bailarino, é o corpo na resistência à ventania cedo pelas artinhas do inimigo covarde, invisível, letal”.
Por conta do ofício de letrista, os versos de Abel Silva têm uma melódica, é musical. Combinando as palavras com facilidade e fluência, ele escreve, de forma leve, sobre meio ambiente, política, tortura, amor, saudade e angústia. O livro se completa com citações ilustres, como Mario de Andrade, Sofia Karam, além de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, em verso da música “Juízo Final”, que abre “Nas trincheiras da poesia”, um anexo.
“Trincheiras da poesia / Aqui se inicia
E vai até o fim deste “caderno” / O que escrevi
Em estado de confinamento em / Minha casa, devido
Ao “novo-coronavírus” cujo surto coincide, / Tragicamente, com os arreganhos
Do “velho fascimovírus”.
Espero escapar dos dois / Vivo e saudável.
Eu, meu país, a raça humana”
SOBRE O AUTOR
Abel Silva estudou na Faculdade Nacional de Filosofia e Direito, e foi editor de cultura do jornal Opinião, nos anos 1970. Depois, em 1976, fundou e editou a revista Anima, junto com José Carlos Capinam, que durou duas edições apenas. Sua primeira composição foi “Eu chego lá”, que ganhou letra de João do Vale, em 1967, mas Abel considera o início da carreira com a gravação de “Jura Secreta, que se tornou um sucesso nas vozes de Fagner e Simone, pelos idos de 1978, composta em dobradinha com Sueli Costa, que é sua parceira há algumas décadas. Foi em 1981 que Gal Costa gravou “Festa do Interior”, parceria de Abel e Moraes Moreira, que se tornou um dos maiores sucessos da Música Brasileira. A canção já ganhou versões em mais de 10 idiomas incluindo japonês, italiano, espanhol, finlandês, inglês e outros.
Com mais de 300 músicas compostas, Abel conta com dois “Prêmio Sharp”, pela autoria de “Voz de mulher” (com Sueli Costa), registrada por Edson Cordeiro, e “Sempre você” (com Dominguinhos), na interpretação do parceiro. Recebeu, ainda, uma indicação ao “Prêmio Sharp” por sua composição “Amor escondido”, em parceria com Fagner, que a interpretou. Entre os últimos trabalhos estão o CD “A bel prazer – Abel Silva – Letras e canções inéditas”, lançado em 2016 pel gravadora Biscoito Fino), onde vários artistas fazem releituras de algumas de suas composições. Gente como Moraes Moreira, Sandra de Sá, Fagner, Pedro Miranda, Moacyr Luz, Leila Pinheiro e Zélia Duncan. Em 2018 foi a vez de “O encontro inédito – Roberto Menescal & Abel Silva”, também pela Biscoito Fino, com músicas da dupla interpretadas por vários convidados, como Claudia Telles, Cris Delanno, Fernanda Takai, Isabella Taviani e outros.
Ao longo dos seus 50 anos de carreira, Abel sempre teve seu trabalho, como poeta e letrista, reconhecido. Segundo declaração de Carlos Drummond de Andrade, ele era “criador de uma poesia que se comunica e encontra expressão natural em música”, Já Glauber Rocha o definiu como “Neomodernista surpreendente, de cuca voadora”. E até a imortal Ana Maria Machado já se rende às letras de Abel: “Tem marca própria, uma visão poética original”, densa, mas cheia de alegria de viver e de um lirismo contemporâneo e sensual”.
Como escritor, Abel lançou o primeiro livro, “O Afogado”, em 1971, seguido por “Açougue das Almas” (1974), “Asas” (1975), “Mundo delirante” (1990). Entre os mais recentes estão, Poema Ateu (2011), O gosto dos dias (2015) e “Fôlego” (2018), todos pela Editora 7 letras.
E aqui estou eu
Com muito tempo para trás
E o, imprevisível à frente
Digo: PRESENTE
E quero mais!! (Idade)
O CADERNO VERMELHO DAS MANHÃS
ABEL SILVA
EDITORA 7 LETRAS
92 PÁGINAS
PREÇO: R$ 44