Publicado em 19/05/2021
Não tem muito tempo desde que trouxemos aqui o reaparecimento das fitas cassete como mais uma moda retrô, que apoiada pelo movimento iniciado pelos LPs, recuperava e conquistava um nicho interessante do mercado (saiba mais aqui). Pelo visto o espaço aumentou.
Especialmente durante a pandemia, é possível observar uma mudança cultural entre os consumidores. Mesmo com toda a praticidade proporcionada pelos serviços de streaming, este período está sendo marcado por uma reconexão com o espaço da casa e o uso do tempo, o que abriu o caminho para o crescimento expressivo de 23,5% nas vendas de disco em 2020, superando inclusive o crescimento dos streamings, que ficou em 18,5%.
E não estamos falando apenas dos saudosistas que viveram a era de ouro do vinil. Diferente de 10 anos atrás, quando se ensaiou no país uma retomada da cultura do vinil, mas que não decolou devido uma indiferença dos mais jovens e uma resistência dos colecionadores a discos de novos artistas, essa onda mais forte do vinil conta muito com a nova geração e sua visão voltada para a diversidade, o que os faz abraçar todo tipo de artista e trabalho.
São jovens que nasceram na música digital, e encontraram no ritual que engloba o vinil, um hobby interessante para aproveitar o tempo extra. E uma coisa não exclui a outra. É até comum serem complementares. Ao garimpar tesouros no streaming, esse jovem encontra um álbum antigo que se conecta com ele e logo parte para a busca de sua versão em vinil. E não mede esforços para isso.
Tudo começa na escolha da vitrola. Muitos entram nessa apenas procurando um objeto vintage para dar um up na decoração da casa, mas logo se vêem comparando qualidade de som e buscando o equipamento ideal, mesmo que de segunda mão e com preços relativamente altos. E falando em preço, esta é outra curiosidade do novo boom do vinil. Edições originais raras, como do “Clube da Esquina”, já eram encontradas entre os colecionadores por altos valores na casa dos R$ 1 mil. Só que agora, essas grandes cifras também chegam aos álbuns inéditos de novos artistas. Vendidos originalmente por volta dos R$ 120 e com tiragem baixa, o álbum logo esgota e se inicia uma escalada surpreendente.
Os movimentados grupos nas redes sociais, que cumprem um importante papel de disseminação da cultura do vinil, rapidamente pipocam com preços de 700 a 1.000 reais para álbuns que foram lançados há menos de dois meses. O curioso fenômeno pode ser mais uma vez explicado pela pandemia, que ao impossibilitar os gastos com viagens, restaurantes, festas e outros, deixa uma reserva pronta para ser gasta com “loucuras” provocadas pela picada da mosquinha da coleção.
A dúvida que fica é se isso se manterá após o fim da pandemia. Estamos vivendo em uma perigosa bolha, especialmente para os que investiram e ampliaram seus negócios no setor, ou a mudança cultural permanecerá e, após um reequilíbrio dos preços, a cultura do vinil sairá fortalecida, permeando uma fatia maior da sociedade e se consolidando como uma mídia relevante no mix de opções variadas?
Só o tempo dirá! O que sabemos, é que estaremos aqui para acompanhar.
Fonte: O Globo