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Sintonizando com Marcelinho Moreira

Foto: Chalinhus

Do Rio, do samba. Marcelinho Moreira personifica uma raiz singelamente brasileira. Suas parcerias ao longo da estrada dão o tom, e o cantor e percussionista, filho de Aderbal do Estácio, executa um enredo único e especial que faz da comunidade o que ela é: um berço da arte popular brasileira. Em entrevista exclusiva ele nos fala das suas raízes, da sua trajetória e do samba.


Foto: Michelle Beff

Nascido num berço genuinamente brasileiro você traz consigo toda a magia de quem vive o samba. Quais foram os seus primeiros passos nessa jornada?

Meus primeiros passos em direção ao samba foram em casa. Minha família, de alguma forma, sempre esteve envolvida com a música e mais precisamente com o samba. Meu pai foi compositor, foi gravado por alguns artistas da época e fazia sambas para o Canarinho das Laranjeiras, Bloco Bafo da Onça, Unidos de São Carlos, atual Estácio de Sá, entre outros. Minha casa era frequentada por alguns dos grandes nomes do gênero e no Quintal da Ignêz, como é conhecido o quintal lá de casa, sempre havia festas (que não eram poucas) onde  rápida e naturalmente se formavam as rodas de samba e a batucada e a cantoria iam madrugada a dentro.

As rodas de samba compõem um capítulo essencial na construção da identidade cultural do gênero. De que modo contribuíram na sua arte?

Contribuíram de forma contundente, principalmente as rodas do Pagode do Arlindo, em Piedade e as do Cacique de Ramos, local ao qual me refiro como minha casa pois comecei a frequenta-lo no início da adolescência e foi de lá que segui para a vida profissional quando fui tocar na banda da Beth Carvalho aos 16 anos, apresentado a ela pelo Ubirany do grupo Fundo de Quintal. De lá segui trabalhando com muitos artistas, não só do samba mas de outros gêneros musicais também. Além de terem sido o ambiente onde me descobri como músico profissional, as rodas de samba, contribuíram para a escolha de ter o samba como vertente principal do meu trabalho enquanto cantor. O samba significa a presença da matriz africana no meu trabalho e isso é algo que busco e valorizo. É o legado que quero deixar na cultura.

O espírito de comunidade é característica nobre do samba e vai das ruas aos palcos com naturalidade. Como as parcerias com outros grandes nomes, como Martinho da Vila e Arlindo Cruz, por exemplo, fizeram parte da sua história?

Costumo dizer que meus amigos se tornaram meus ídolos e  meus ídolos se tornaram meus amigos. Essas parcerias são exemplo disso. Nomes como Martinho, Arlindo, Zeca, entre outros, fazem parte da minha vida pessoal e profissional até por conta da proximidade das nossas famílias. Todos são espelhos que uso pra me inspirar na música e na vida. Especificamente nesse caso, fiz parte das bandas do Zeca, Arlindo e Martinho durante muitos anos.  Martinho me chama de filho musical, Arlindo é meu compadre e afilhado de casamento e Zeca era presença assídua na minha casa mãe (no Quintal). A figura deles na minha história  se faz presente no palco e fora deles.

A música no Brasil vive diferentes auges em momentos distintos da história. O samba, particularmente e como poucos, sempre se mantém vivo e incansável. A que se deve essa solidez?

A verdade é uma planta que a gente pisa e ela nasce novamente e isso se dá no samba também. Quando se fala de música brasileira pelo mundo afora, sempre nos remetemos ao Samba (assim como à Bossa Nova, que pra mim, é uma vertente do samba) por ser um gênero muito popular. Por mais que identifiquem o samba como um gênero e a MPB como outro, creio que não exista nada mais popular e brasileiro que o samba porque ele é a manifestação do povo, para o povo e com o povo. Sendo assim, se torna genuíno, consistente, sólido e perene.  Acabar com o samba é acabar com a história de um povo.

Seu disco Fé no Batuque (2013), mais do que um título são palavras que o descrevem não só como artista mas como pessoa. É essa mescla que faz da sua música, do samba, uma arte verdadeiramente brasileira?

Acredito que sim. No meu caso, sou um batuqueiro que canta. O cantar desse batuqueiro ganhou maior dimensão na banda da Beth Carvalho quando ainda era músico e a Beth generosamente me chamava à frente do palco pra  dividir um samba. Eu fazia a vez do Zeca Pagodinho que havia feito a gravação original. Foi o batuque que abriu caminhos para eu estar onde estou hoje, então tenho que acreditar nele. Sou, também, uma pessoa que tem fé, que acredita no bem e no poder das palavras, aliás minha vida sempre me provou que devo acreditar na existência de um ser maior.  Tento levar essa crença para as músicas que componho e seleciono pro meu repertório em geral.  Por isso o título desse CD traduz bem quem eu sou mas mais do que isso é uma bandeira de vida que também pode ser entendida aqui como a fé nos atabaques  e  matizes das religiões de origens africanas que são espiritualidade na qual acredito e estão, de alguma forma, presentes na minha arte.

Quais são os próximos projetos?

O mais iminente é o lançamento do quarto CD solo, intitulado Marias. Nesse trabalho faço uma homenagem à todas as mulheres do samba; as que cantam, as que trabalham na cadeia produtiva relacionada ao gênero, as que  apenas frequentam e em especial à minha mãe, Dona Ignêz, e à Beth Carvalho. O novo CD está em fase de masterização. Passada a pandemia e tão logo tudo se acomode queremos ganhar estrada com ele. Assim espero!!  Também está na lista, realizar  uma roda de samba mensal em SP. Estamos buscando parceiros para isso. Atenção leitores rrrsss.  Vem ai também, conteúdos diversificados para o canal do youtube. No mais, é continuar com os projetos já vigentes, como o show Meio século de samba – Marcelinho Moreira Canta Martinho e Candeia, demais shows e  as Rodas de Samba Canto do Batuqueiro que fazem parte de um projeto já existente há 8 anos que além de ser o local para gente se divertir com um bom samba é também um projeto que, sempre que pode, está envolvido com causas sociais relacionadas às pessoas em condição de vulnerabilidade sócio-econômica e por isso não podemos e nem devemos parar, certo?!


Confira alguns destaques do trabalho do Marcelinho:

Marcelinho Moreira – Canto do Batuqueiro

Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e M.Moreira – Nunca mais vou jurar

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Foto: Chalinhus

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