Rashid é um dos nomes mais expressivos do Rap no Brasil. Em pouco mais de dez anos de carreira produziu dois álbuns de estúdio (“A Coragem da Luz” e “Crise”) além de três mixtapes, três EPs e diversos singles. “Tão Real”, seu novo projeto foi dividido em temporadas, como se fosse uma série de TV. O álbum mostra toda a versatilidade do artista que misturou estilos musicais em participações especiais como Emicida, Rincon Sapiência e Drik Barbosa, Duda Beat, Tuyo, Stra Paola, Lukinhas entre outros. Compositor, escritor, produtor e empresário (montou a sua empresa, Foco na Missão, que administra sua carreira além de sua própria marca de roupas e acessórios), Rashid concedeu essa entrevista exclusiva para a Abramus.
Conta um pouquinho para gente do início da sua carreira e das dificuldades de se fazer o Rap no Brasil.
Meu berço no Rap foram as batalhas de rima, que hoje são imensamente populares em vários estados, mas quando comecei a frequentar, em 2005, pouca gente dava a devida atenção para esse formato. Passei uns 2 ou 3 anos participando 3 vezes por semana das batalhas de rima até começar a ser convidado para mostrar meu talento em outros espaços. Eventos de marcas, festas de Rap, abertura de shows etc. Não era um período fácil, devido à falta de dinheiro, mas a partir dali a semente foi plantada e, pouco a pouco, as coisas foram acontecendo. Hoje estamos aqui.
O Rap e o Hip-Hop como um todo foram marginalizados e excluídos do diálogo cultural durante alguns bons anos. Hoje, com artistas já consagrados e números que chamam a atenção, observamos uma boa parcela das pessoas com a mente aberta em relação ao nosso movimento, mas isso é resultado de uma luta constante que começou lá com a geração do Pepeu, passou pelo Thaíde, Racionais MC’s, Kamau e, enfim, chegou à década de 2010. As dificuldades são muitas. Navegamos entre as mais comuns – como falta de grana, má estrutura familiar, pouca oportunidade – e outras que são reservadas à individualidade de cada um.
Acredito que o fato de o Rap estar sendo visto com bons olhos agora é fruto de toda essa luta e mais, de toda a bagagem artística e riqueza cultural que fomos acumulando desde que o Hip-Hop pousou no Brasil.
Qual a inspiração para as letras das suas composições ao longo dos anos?
Minha poesia é 100% baseada na minha vivência. Mesmo quando trago algo ficcional, geralmente é baseado em algumas coisas que vivi ou uma história que ouvi. Acho que isso é o que provoca a forte identificação das pessoas, essa crueza.
Você tem feito parcerias (mais recentes) com nomes como Emicida e Lukinhas, Duda Beat, entre outros. Como é trabalhar com essa turma que tem se destacado na música brasileira e muitas vezes artistas que não são do rap. Como você se relaciona com os outros estilos de música de nossa atualidade no país?
A música é uma parada coletiva e o Rap é um gênero comunicador, por excelência e necessidade. Acho que acaba sendo natural o tráfego entre gêneros musicais, os diálogos. No mundo todo isso é bem comum e acho que chegou a vez do Brasil. Já trabalhar com essa turma, é fantástico. Com o Emicida, eu tenho uma amizade que já vai completar 15 anos, então temos uma sintonia há tempos. Com os outros convidados, nós vamos conversando, respeitando a naturalidade da música e, se tudo se alinhar, gravamos. A música pede e a gente tenta fazer, quase sempre dá certo.
Essa pergunta não podia ficar de fora, apesar de já ter sido bastante debatida: a frustração do cancelamento do Lollapalooza. Como foi a experiência, desde o convite, alegria, expectativa, ao cancelamento no dia? E como foi ter sido novamente convidado para a edição deste ano?
Foi tudo incrível, inclusive o momento que pisamos no palco e o público cantava com a gente. Até a hora que recebemos a notícia que deveríamos parar o show devido à ameaça de chuva. Obviamente a frustração foi gigante, mas ninguém tinha controle sobre a situação. A segurança do público tinha que vir primeiro, não dava pra arriscar. Ser convidado novamente alegrou muito meu coração, achei muito sensível e atencioso da parte da equipe do Lolla. Acho que demonstra que eles se importam, e muito, com os artistas nacionais que estão ali.
Em uma entrevista, você disse sobre a influência do Jorge Ben para toda uma geração. Além dele, quais são outros nomes que fazem parte da sua construção musical?
Racionais MC’s, Cartola, Adoniran Barbosa, Clara Nunes, Elis, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nina Simone, John Coltrane, Miles Davis, Fela Kuti, Jay-Z, Nas e por aí vai. A lista é enorme.
Vocês fizeram uma estratégia diferente ao lançar o álbum “Tão Real”. A websérie também é um sucesso. Como surgiu essa ideia da parte visual do álbum musical? Como tem sido o feedback do trabalho como um todo?
Estamos todos muitos contentes aqui na equipe porque sentimos que o público abraçou essa coisa da série e das temporadas. Sabíamos que 2019 seria um ano repleto de lançamentos e queríamos ser verdadeiramente ouvidos. Então surgiu essa ideia, de dividir o projeto em três partes de 6 músicas, para que cada parte pudesse ser bem digerida. Depois, embrulhamos tudo com essa roupagem de série.
Conta um pouco sobre os projetos para esse ano, além de trabalhar o “Tão Real” com shows e clipes. Pretende lançar algo novo ainda este ano ou muito cedo para saber?
Ainda é muito cedo, o disco é recém lançado e promete muitos frutos. Quero fazer algumas coisas baseadas nesse universo Tão Real, mas no momento o foco é total na missão de espalhar o disco e iniciar a turnê.
Confira alguns destaques do trabalho de Rashid:
Rashid, Dada Yute – Todo Dia (Clipe Oficial)
Rashid, DUDA BEAT – Sobrou Silêncio
Rashid – SSNS (Live Performance) | Vevo
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Créditos das imagens:
Foto: Jefferson Luz
Poster: Estúdio Miopia
Foto: Capa “Tão Real” (Direitos Reservados)