O ano era 1969. O clima nos Estados Unidos era de tensão. A Guerra do Vietnã custava muito ao governo e aos cidadãos. Eles viam vidas de jovens serem desperdiçadas sem um motivo claro e a economia enfrentar tempos difíceis com os altos custos da batalha. Os atritos raciais se intensificaram após o assassinato de Martin Luther King e o país parecia um barril de pólvora prestes a explodir.
Uma geração de jovens inconformados não queria mais saber da “insanidade” que era a sociedade em que viviam e precisavam de uma forma de escapar de tudo isso. Esse cenário foi o terreno fértil para transformar um relativamente despretensioso festival de música em um acontecimento cultural histórico, que ganhou uma aura mística e ditou grandes mudanças na comportamento nas décadas seguintes.
Quem iria imaginar, que a pequena cidade de Woodstock, a 170 km de Nova York, seria o palco deste acontecimento? E não foi mesmo! Curiosamente, o festival não foi realizado no local originalmente determinado. Problemas de autorização, há poucos dias do evento, obrigou os organizadores a transportar toda a estrutura para uma fazenda emprestada no município de Bethel, a 100 km dali. Como não havia tempo de trocar os cartazes, Woodstock entrou para a história e mantém até hoje esta fama, recebendo turistas frequentemente.
Independente da localidade, o festival aconteceu e reuniu diversos elementos que o tornaram provavelmente o maior festival de rock da história. Primeiro a presença das grandes estrelas da música na época. Os organizadores conseguiram reunir 32 atrações de peso, como: The Grateful Dead, Nash & Young, The Who, Santana e, claro, Janis Joplin e Jimi Hendrix.
Os dois fizeram apresentações fantásticas, que renderam o título de rainha do rock para Janis e marcou o país e o mundo com um hino nacional interpretado de forma visceral pela guitarra de Hendrix. A morte precoce dos dois, aos 27 anos, no ano seguinte, ajudou a tornar ainda mais icônica a sua participação, já que acabou sendo o ponto alto da curta carreira de ambos.
Outro elemento marcante foi a atmosfera pacífica. Já era a proposta, como pode ser visto no cartaz de divulgação feito pelo designer Arnold Skolnick, porém, entregar isso é um feito impressionante.
Três dias de paz e música era tudo o que a juventude buscava. Talvez por isso, os 200 mil espectadores esperados se tornaram 500 mil. Superou qualquer estimativa, mas surpreendentemente manteve a o clima “paz e amor”, que se tornou um marco na mitologia que envolve o evento. Uma multidão em sintonia, focada em apreciar a música e curtir o momento.
O terceiro ponto que pode ser destacado como fundamental para a perpetuação da “lenda” de Woodstock é o registro em forma de documentário dirigido por Michael Wadleigh e editado por uma equipe que tinha Martin Scorsese (que veio a se tornar um grande nome do cinema mundial). O filme foi uma das maiores bilheterias do país no ano seguinte e ainda ganhou o Oscar de melhor documentário. Sem dúvida, todos os que não puderam participar ao vivo, tiveram um gostinho e foram tocados pela forte emoção transmitida naqueles 3 dias. Woodstock ganhou o mundo e virou um símbolo da contracultura imediatamente.
Por último está o fato de Woodstock ter sido realmente único. Nem outros festivais que vieram nos meses seguintes, nem as comemorações de 25, 30 e 50 anos (que nem aconteceu) conseguiram reproduzir o mesmo ambiente. Todos foram marcados por episódios chocantes de violência e morte.
O grande legado de Woodstock é em forma de inspiração. Foi o gatilho para o movimento hippie, que impactou culturalmente toda uma geração, desde a forma de se ver o mundo e as relações humanas, até a moda, a política e claro, a música (elemento central do evento). Até hoje é lembrado em tempos difíceis, quando discursos de ódio e intolerância ganham força. Utópica ou não, sua mensagem continua mais viva do que nunca e vai continuar norteando os ideais de harmonia, colaboração e paz. Viva Woodstock!