O termo Indie foi cunhado para os artistas independentes no começo deste século. É o caso da banda Nirvana, Los Hermanos e tantos outros. Não tinham o apoio de uma grande gravadora para massificar sua audiência e por isso concentraram seus esforços em agradar o seu nicho de fãs. Subiram degrau a degrau a escada para o sucesso.
Sem as gravadoras, não havia também a pressão por se encaixar em um determinado formato sonoro. Essa liberdade permitiu o uso de todo o espectro de talento dos artistas, para superarem as adversidades mercadológicas, elevando o patamar do seu som e revolucionando o mercado.
Com o passar dos anos esta “cena indie” foi se consolidando e se transformando. A chegada de novas tecnologias (principalmente as redes sociais e serviços de streaming) e novos personagens, deu gás e uma cara nova ao movimento. O próprio termo se transformou. O indie agora é o Midstream. Porém a mudança não é apenas no vocábulo.
Antes uma imposição, hoje é mais uma escolha. Muitos artistas que já atingiram o mainstream (o grande público e os veículos de massa), optaram por sair das grandes gravadoras por uma questão estética, de democratização da música. Outros nem almejam chegar até lá. Saindo do underground (quase anonimato), consolidam-se no patamar desejado do midstream, e trabalham dentro do seu ambiente natural, as redes sociais.
É a força dessa mídia democrática, capaz de absorver todos os nichos, e desenvolver progressivamente suas fanbases, que despertou a atenção dos festivais no Brasil e no mundo. Os maiores do país, como Rock in Rio e Lollapalooza, se adaptaram, diversificando o foco de seus palcos e públicos. Várias vezes estes artistas do midstream são o destaque nos festivais grandes e médios. O fã fiel das redes sociais não perde a oportunidade de ver seu ídolo e, por isso, constitui uma boa parcela da renda destes eventos.
Assim como já mencionado no “Global Music Report 2019” da IFPI (veja aqui), uma das tendências do mercado é a descentralização das estrelas musicais. Cada vez mais teremos estrelas com relevância local, em cada país ou até numa escala mais micro. Dentro do próprio Brasil observamos este cenário bastante pulverizado, com artistas se destacando regionalmente, em vários estilos e para vários públicos.
Rincon Sapiência, Francisco El Hombre, Djonga, Vanguart, Vespas Mandarinas, The Baggios, O Terno, Rico Dalasam e incontáveis outros, se encaixam perfeitamente neste novo momento. Raramente vistos em grandes TVs e rádios, se apoiam na internet para divulgar e monetizar seu trabalho. Usam e abusam da liberdade criativa que possuem, investindo em seu som autoral, com personalidade própria e assim, enriquecendo o cenário musical.
É um caminho sem volta. O mercado abriu as portas e certamente veremos cada vez mais artistas e grupos se criarem e firmarem nesta faixa do midstream. É um movimento que demanda agilidade e adaptação de todos os players envolvidos no mercado fonográfico. A música em si agradece. Afinal, como já dizia o poeta, prefere ser essa metamorfose ambulante.