Sempre falamos o quanto a música é uma das formas mais puras da expressão humana. Ela nos conecta com os outros e nos transporta no tempo através das memórias que desperta. É fato que a simples junção de acordes, melodias e palavras nos afloram as mais variadas emoções. O funcionamento deste poder desperta curiosidade, sobretudo da ciência.
Os estudos aprofundados da neurociência nesse campo são relativamente recentes, mas já bem consolidados. Os cientistas consideram a música um ótimo caminho para estudar o funcionamento do nosso cérebro, já que ela desperta várias funções mentais simultaneamente, como memória, atenção, planejamento motor e sincronização. Isso ajuda a desvendar os mistérios da nossa evolução como espécie e sociedade.
Com o avanço da tecnologia, conseguimos alcançar novos resultado e descobertas. Desde os anos 90, com os adventos da tomografia, ressonância magnética e neuroimagens, estudos sobre a resposta do cérebro a certos estímulos, em tempo real, se tornaram possíveis e proliferaram.
Claro que entre os estímulos avaliados, a música foi muito estudada. Nas últimas décadas diversos neurocientistas consagrados publicaram livros e ensaios neste campo, ajudando a elucidar as dúvidas e nossa curiosidade. Estes avanços permitiram resultados promissores no uso da música para fins terapêuticos, tanto em casos de deterioração neurológica, como demência e Parkinson, ajudando a criar novas conexões neurais, quanto limitações cognitivas em crianças com autismo ou dislexia, ao influenciar nos níveis de cortisol.
Diferente do que muitos pensam, a música não é simplesmente um produto cultural. Ela está muito mais arraigada em nosso DNA, como a linguagem propriamente dita. É comprovado cientificamente que ela é universal a todo ser humano e um produto da nossa evolução. Por isso nosso humor é tão influenciável por ela, nos permitindo relaxar ou nos estimular com a música certa.
Mesmo tendo origem evolutiva similar à linguagem, a música ocupa um papel um pouco distinto, sendo mais responsável pelo lado emocional, ao invés da transmissão direta de informações, como em uma conversa. Ao nos arrepiarmos com uma música, nosso cérebro é inundado de dopamina, parte do chamado sistema de recompensa, muito similar ao que ocorre no sexo, em uma refeição gostosa e em algumas drogas.
Alguns dos aspectos musicais tem origem neurológica universal, enquanto outros são produtos da sociedade. O andamento da música e sua intensidade determinam a associação com ser alegre ou triste, neurologicamente falando. Já as escalas musicais sofrem uma influência mais cultural na nossa percepção dos sentimentos despertados pela canção, assim como o estilo musical que mais nos agrada. Músicas alegres seriam geralmente as mais rápidas, fortes, agitadas e de escala maior.
Conhecendo-se essas métricas e efeitos, é possível usar a música na plenitude do seu potencial. Então na próxima vez que se arrepiar, chorar ou abrir um sorriso ouvindo música, lembre-se que ela está conosco desde os primórdios, se desenvolvendo como ferramenta fundamental para o nosso desenvolvimento cognitivo e emocional. Música mexe com o nosso cerne, nos identificando como seres humanos parte de uma sociedade complexa. Música é ciência, é arte, é vida. Ela nos torna plenos, e como já dizia o ditado, espanta os nossos males.