Em uma geração que está sempre conectada, recebendo milhões de estímulos simultâneos, a relação com a música evoluiu.
É fácil imaginar a cena. Um jovem em seu quarto, lendo, estudando ou apenas navegando nas redes sociais em seu computador. Certamente ele ou ela estará com um fone de ouvido, e neste fone provavelmente estará tocando lo-fi music.
O nome vem de “low fidelity” (baixa fidelidade), que se refere à qualidade do som, normalmente limitada pela condição financeira do artista, muitas vezes usando gravadores baratos de fita cassete. Porém, hoje é mais reconhecido pelo Lo-Fi Hip Hop, um estilo antagônico ao famoso Hip Hop, com notas simples e sons pouco agressivos.
É esta característica sonora que arrebatou um nicho de fãs muito importante, os millennials. Os jovens entre 15 e 25 anos já nasceram conectados e são extremamente adaptados aos estímulos constantes que recebem de todos os lados. Diferente de outras gerações, têm inclusive dificuldade em se desligar do mundo e simplesmente relaxar em silêncio.
Por causa desta característica que as lo-fi music encaixam tão bem com estes jovens. Sons repetitivos de batidas simples, com uma pegada de jazz e quase sempre sem voz, que casam perfeitamente com uma leitura e estudo, sem tirar a atenção da tarefa principal. Mesmo quando usado independente, traz uma certa melancolia, também apreciada por esta geração. Até a baixa qualidade, com seus chiados e tudo mais, possuem um certo charme. Não é à toa que está se tornando uma febre.
Na contramão do que os serviços de streaming fazem, usando seus super algoritmos para indicar músicas “perfeitas” para cada pessoa, um movimento dentro do YouTube chama a atenção. São canais voltados para a transmissão ao vivo (em uma nova roupagem do rádio) e playlists de lo-fi music, que contam com a curadoria de fãs do gênero, sem levar em conta o gosto individual.
ChilledCow, Chillhop Music e College Music são alguns destes canais, com base na Europa, que já contam com milhões de seguidores. Pessoas de mente mais aberta, dispostas a se surpreender com músicas que talvez nunca tivesse pensado em ouvir, mas dentro de um mesmo estilo, mantendo uma certa zona de conforto. Sem falar nos chats dentro das transmissões, sempre lotados de jovens ávidos por interação.
O sucesso vem chamando a atenção de alguns artistas, dispostos a pagar para estarem na programação dessas “rádios”, em uma espécie de jabá do século 21. Porém a intenção dos organizadores nem é gerar lucro. Eles pregam que fazem mais pela paixão por música e a ideia de estar proporcionando bons momentos aos outros. Ah esses millennials!
É claro que eles consomem todos os outros tipos de música, e aos milhões. Os serviços de streaming provam isso. Porém, mostra este lado mais maleável da geração, que gosta de experimentar um pouco de tudo, sem rótulos e amarras. Qual será a próxima novidade? Deixe o tempo dizer. Por enquanto, solte o play e aproveite o relaxamento dos Lo-Fi music.