Músicos brasileiros engajam público com letras que quebram paradigmas e estereótipos
Muitos artistas brasileiros usam o poder de suas músicas para propagar mensagens que promovem a diversidade e ajudam a quebrar paradigmas criados pela sociedade. A rapper Karol Conka é constantemente chamada de “lacradora” (pessoa que arrasa no que faz) pelos fãs por conta de suas letras e discursos engajados. Na canção “Bate a Poeira”, por exemplo, Karol rima sobre a importância de respeitar todas as crenças religiosas e ainda fala sobre igualdade social e racial. “Negro, branco, rico, pobre. O sangue é da mesma cor. Somos todos iguais. Sentimos calor, alegria e dor”, diz em uma estrofe. Ela também aproveita as músicas para falar sobre feminismo e ressaltar, como diz na faixa “É o Poder”, que veio para chocar a sociedade e incomodar.
“É importante sair da obviedade e provocar um incômodo saudável do desconhecido. Assim, é possível criar um olhar mais abrangente e contemplativo no sentido de que todos podem e são capazes de fazer o que desejam”, conta a rapper Yzalú, que usa suas canções para combater o preconceito, o machismo e a discriminação contra pessoas com deficiências físicas. A artista, inclusive, optou por exibir sua prótese na perna direita na capa do álbum “Minha Bossa é Treta”, lançado em 2016.
“A arte é um instrumento muito poderoso, sobretudo a música, porque ela tem a capacidade de provocar diversas sensações. Dentro desse contexto, acredito que a minha música propõe justamente desconstruir tudo aquilo que foi aprendido como único, padrão e lógico”, afirma a artista. “É preciso enxergar a diversidade sob o ponto de vista do indivíduo e de suas pluralidades, pois nós somos diversos. Não existe um único ser no planeta. É exatamente isto que precisa ser respeitado”, completa.
Rico Dalasam também se destaca na cena rapper brasileira. Ele é o precursor do queer rap no país. Em seu primeiro trabalho, “EP Modo Diverso”, o artista fala sobre suas experiências como jovem negro, homossexual e morador da periferia. Já Alice Caymmi, usa sua influência musical para desfazer estereótipos e quebrar o padrão “tradicional” de beleza imposto pela sociedade. Em ambos os casos, o objetivo é claro: aceite-se e respeite as outras pessoas pelo que elas são.
Gênero em pauta
“Bicha, trans, preta e periférica. Nem ator, nem atriz, atroz. Bailarinx, performer e terrorista de gênero.” É assim que a cantora e ativista Linn da Quebrada se define em seu site oficial. Ela é uma das artistas brasileiras que usa suas músicas e imagem para promover a igualdade de gênero.
“A maior parte das produções musicais segue uma lógica na qual o feminino está sempre em função do macho. Eu tento quebrar essa lógica com as minhas músicas, colocando o feminino como protagonista do seu próprio desejo. Quero que corpos como o meu, bichas e travestis, não sejam mais reféns do desejo pelo masculino. O objetivo é que eles se voltem com admiração, carinho e até mesmo desejo pelo feminino. Uma celebração e exaltação do feminino independentemente do corpo no qual ele está localizado”, afirma a artista.
O grupo As Bahias e a Cozinha Mineira também aborda questões ligadas às mulheres e suas vontades. As vocalistas da banda, Assucena Assucena e Raquel Virgínia, ambas mulheres transgênero, compartilham opiniões políticas com o público e incentivam as pessoas a serem quem elas quiserem, sem medos de julgamentos ou preconceitos.
“Essas atitudes no mundo musical ajudam a ampliar o nosso leque de possibilidades. As pessoas percebem que há tantos outros modos de existir. É um exercício de alteridade. De perceber que existe um mundo além do seu próprio umbigo, que aumenta a nossa rede de perspectivas e possibilita pensar de outras formas. Nos faz ir além de nós mesmas. É movimento”, finaliza Linn da Quebrada.
(Rapper Yzalú acredita que a música é uma ferramenta essencial para propagar a diversidade
Foto: Rogerio Fernandes / Foto: DR – Direitos reservados)
Por Agência Entre Aspas