Especialistas debatem a cena atual do teatro brasileiro e comentam a importância de preservar os direitos autorais
Na Grécia Antiga, o teatro tomou forma como uma homenagem ao deus do vinho Dionísio. No Brasil, essa arte já estava presente em alguns rituais indígenas antes da chegada dos portugueses. Com o passar dos anos, a produção artística que leva atores aos palcos tornou-se cada vez mais popular, passando por uma série de fases e enfrentando forte censura na época da ditadura militar. De lá para cá, muita, muita coisa mudou – e o panorama atual divide opiniões.
Para Sonia Rodrigues, filha do dramaturgo Nelson Rodrigues, a cena teatral brasileira apresenta alguns fatores que merecem elogios, como a mescla de novidades e abordagens tradicionais. “Surgem novos autores, ao mesmo tempo em que vejo que continuam as montagens de clássicos nacionais e estrangeiros”, explica.
Ivan Rubino, filho do dramaturgo Millôr Fernandes, afirma não gostar do que vê atualmente no teatro brasileiro. “Vejo uma ligação entre a cena artística e a burocracia de uma proporção inimaginável. No cinema, esta relação sempre existiu – principalmente, por causa da diferença abismal em relação ao custo de uma produção cinematográfica. Uma produção teatral, por mais cara que seja, jamais, nem de longe, se aproxima dos custos de uma produção de cinema”, conta.
O herdeiro de Millôr diz que não consegue enxergar a burocracia como uma aliada da produção de arte – as duas sempre foram antagônicas. Para ele, o maior desafio atual é conseguir encontrar um espetáculo que não precise de patrocínio para acontecer.
Sempre atual
Apesar de não serem lançamentos, algumas obras de Nelson Rodrigues e Millôr Fernandes continuam sendo exploradas, reproduzidas ou até renovadas. Atualmente, algumas das mais procuradas são os contos de “A vida como ela é”, de Nelson Rodrigues, “A história é uma história” e “É…”, de Millôr Fernandes. Rubino, inclusive, acredita que “É…” seja a obra de maior sucesso do pai. “Pela qualidade da dramaturgia. Por revelar, de forma jamais explorada, a profundidade de um relacionamento amoroso, conjugal, em todos os seus meandros”, explica.
“Uma coisa interessante são as montagens que misturam linguagens ou gêneros. Sinto que existe um interesse em atualizar Nelson Rodrigues, não ignorando o texto, mas trazendo outro tratamento ao ‘Shakespeare’ brasileiro” conta Sonia. Ela acredita que a popularidade de cada obra depende muito do momento, mas ressalta que, atualmente, “O Beijo no Asfalto” tem grande repercussão por mostrar a que ponto a homofobia pode levar as pessoas.
A representação
A ABRAMUS trabalha para garantir a valorização e os direitos dos artistas dramatúrgicos desde 2004, quando foi criado o departamento Grandes Direitos, atualmente conhecido como Teatro & Dança. “A obra de Nelson Rodrigues nunca foi tratada com a seriedade e com o profissionalismo com que a ABRAMUS a tem lidado até agora” relata Sonia. Além de cuidar dos direitos autorais das obras e repassar os créditos aos artistas ou responsáveis, a Associação também atua como uma espécie de agente, tentando interligar pessoas para tirar uma obra do papel ou melhorar sua produção. A Agência Riff, que atua como representante de autores no mercado nacional e internacional, tem sido uma grande parceira da ABRAMUS desde 2005. A empresa representa autores tanto no mercado editorial, como em adaptações para obras teatrais e audiovisuais.
“O mercado é muito dinâmico: temos que lidar com as dificuldades por conta da crise, as urgências e as questões envolvendo editais e patrocínios. Somos desafiados a cada instante. Acreditamos que, com a parceria da ABRAMUS, prestamos um serviço melhor para nossos autores. Também atendemos melhor aos produtores de teatro espalhados pelo Brasil e pelo mundo” afirma Lucia Riff, fundadora da Agência Riff. Lucia também ressalta o bom relacionamento com o gerente do Teatro & Dança, Guilherme Amaral. “O Guilherme procura fazer um trabalho inteligente e ativo. Ele conhece profundamente o mercado, entende as obras, os produtores e os autores. É um apaixonado pelo seu trabalho”, afirma.
Além do grande catálogo de autores, a Agência Riff também representa editoras e agências literárias estrangeiras. O trabalho é feito tanto no Brasil como em Portugal.
Por Agência Entre Aspas
Fonte: Revista Abramus, Edição 32
Ilustração: DR – Direitos Reservados