Veja a versão completa da entrevista com o compositor Maurício Mello, que saiu na última edição da Revista da Abramus
Maurício Mello é cantor, produtor, empresário artístico e compositor de muitos sucessos do sertanejo atual, como “Suíte 14” (Henrique & Diego/Mc Guimê), “Chora Chora” (Gusttavo Lima), “Vou Jogar a Chave Fora” (Maria Cecília e Rodolfo) “Enquanto Houver Razões” e “Louca de Saudade” (Jorge & Mateus). Na entrevista abaixo, o profissional fala sobre sua carreira e direitos autorais. Ele ainda ressalta as dificuldades que os compositores enfrentam, sobre distribuição de direitos autorais em Shows e explica o trabalho de suas empresas.
ABRAMUS: Como você começou na música?
Maurício Mello: Comecei como a maioria dos compositores e músicos: trabalhando na noite. Aprendi a tocar violão com 11 anos. Comecei a compor porque tenho uma dificuldade de decorar letras, inclusive as minhas. Então, como eu não decorava, inventava um pedaço a cada vez que ia cantar. E foi assim que eu comecei a compor. Cheguei a gravar quatro CDs, um DVD, tive dupla sertaneja e cantei solo. Em 2008, parei a carreira de intérprete e me dediquei a ser compositor.
ABRAMUS: Qual foi sua primeira música gravada?
MM: “Minha Vida”, de 1991. Ela foi gravada por um artista regional, do Mato Grosso do Sul, mas não teve muita expressão. O artista era pequeno. O interessante é que o título se chama “Minha Vida”. Acho que já era um presságio do que iria acontecer.
ABRAMUS: Você tem composições gravadas por vários artistas. Há alguma que você considera mais importante?
MM: Estou muito feliz com as minhas composições. Acho que elas foram me trazendo para o momento que vivo hoje, então, seria injusto se eu falasse apenas de uma. Uma música que a dupla Maria Cecília e Rodolfo gravou, chamada “Vou Jogar a Chave Fora”, me deu uma projeção regional. Depois, Jorge & Mateus gravaram “Enquanto Houver Razões”. Ela me deu uma projeção nacional, porém, não foi o maior estouro. Depois, veio “Suíte 14”. Acho que foi a música que mais me deu visibilidade. Hoje, é o meu maior sucesso.
ABRAMUS: Você tem as empresas MM Music e a Suíte 14, que são muito importantes no meio sertanejo. Qual o trabalho que estas empresas desempenham para os artistas?
MM: Em 2010, nós iniciamos a editora MM, porque eu senti a necessidade de trazer mais compositores para fortalecer um segmento. Com o passar do tempo, crescemos e a MM virou um grupo. Ele administra mais 7 empresas, incluindo a Suíte 14, que cuida de fonogramas. A MM Music é uma editora, gravadora, distribuidora digital e administradora de outras empresas. Ela tem um canal no Youtube com mais de 500 mil seguidores e que está entre os 60 mais assistidos do Brasil. Temos um estúdio próprio para gravar com artistas novos e somos representantes da ABRAMUS. Atualmente, prestamos serviços musicais em todas as áreas, desde a edição até a entrega do produto para o público.
ABRAMUS: O canal do Youtube da MM Music tem algo interessante que são vídeos dos compositores cantando suas próprias músicas. No site há um objetivo de valorizar o compositor. Você acha que o reconhecimento dos compositores no mercado e para o público é justo?
MM: Não acho justo. Eu abri uma editora porque não fui atendido por uma outra. Aí pensei em começar um trabalho que seria uma filosofia de vida. Eu queria que os compositores tivessem a informação. Quem tem a informação, tem poder de escolha. Depois disso, nosso trabalho é mostrar para o público quem é o autor. As pessoas acham que quem está cantando é quem fez a música. Todos nós somos artistas, uns artistas intérpretes, outros artistas compositores. Quem está cantando tem o mérito de estar lá e tem o dom da voz, mas alguém fez a composição e este alguém não tem a visibilidade do intérprete – e quando tem a oportunidade de ser visto, é escondido. Não é choradeira, é realidade. Se a televisão não coloca o nome do autor nos caracteres ou se o radialista não tiver a oportunidade de falar por falta de informação, dificilmente você vai ver um intérprete que vai dar uma entrevista e falar o nome do compositor.
Não é por esquecimento que eles não falam, pois você não esquece o nome de um compositor que te deu uma música que te levou até ali. É porque eles não querem valorizar, ou têm medo de serem diminuídos na opinião pública por não terem feito a música. Na cabeça de alguns, falar quem é o compositor vai diminuir seu sucesso. Pelo contrário, dividir é multiplicar. Ele está simplesmente dividindo o sucesso que é de direito deles. Então acho que nós não somos valorizados não, não somos reconhecidos na maneira que deveria.
ABRAMUS: E o seu canal e editora ajudam no reconhecimento dos compositores.
MM: No canal da MM a gente faz um quadro que chama MM a Origem de Tudo onde a gente leva os compositores, eles cantam uma música que é sucesso deles, na interpretação dele, na maneira que a música foi feita .Porque eu tenho comigo que o público adora isso. Você ouve uma Suíte14 muito bem produzida pelo arranjador, que é o Dudu Borges, que tem o mérito dele naquela gravação, e cantada muito bem pelo Henrique e Diego. Mas aí ele entra no meu canal e vê como eu escrevi a música, como eu toquei, criei e fiz frase por frase. E é legal porque ele tem uma gravação do compositor e a gravação do artista, e ele percebe que um cria e o outro tem o dom de Deus pra cantar e emocionar. Uns emocionam escrevendo, outros emocionam cantando. Se a gente fosse reconhecido como deveria, a emoção ia ser grande. Então nós como editora e gravadora estamos fazendo nossa parte. Eu, como compositor, gravadora, editora que pode falar e tem um reconhecimento e acesso maior, falo por aqueles que não tem e por aqueles que tem o acesso, mas tem medo de falar. Eu vou falar sempre que tiver oportunidade sobre a conscientização do intérprete de valorizar seu autor. Porque ele não vai se diminuir, ele vai se engrandecer quando ele fala. Porque o gênio é generoso. Quando ele falar do autor, o autor vai ser mais fiel a ele e fazer mais músicas para ele. O público não tem culpa de nada. O trabalho é de conscientização como nós fazemos e a Abramus com esta matéria de mostrar quem é o compositor. Não é quem é mais ou menos, apenas mostrar que um canta e existe outro que compôs. Se cada um fizer um pouquinho, a gente vai mudar este cenário e vai ser bom para todo mundo.
ABRAMUS: Suas músicas já foram gravadas por artistas como Gusttavo Lima, Henrique e Diego, Jorge e Mateus que fazem muitos shows tocando suas músicas. Quais os problemas que você encontra no direito autoral de shows?
MM: Eu e 99% por cento dos compositores encontramos problemas na arrecadação dos shows. Problemas que começam na hora que o artista fecha o show. Pois quando não é gravado pelo Ecad, o contratante normalmente não manda o repertório correto ao Ecad. Até o artista se apresentar, o contratante não sabe o que vai ser tocado. Aí ele “inventa” um repertório, porque ele tem que entregar ao Ecad e este repertório muitas vezes não é o que está sendo executado. E quando é o artista que entrega o repertório, na maioria das vezes, não é o repertório que ele está cantando. Então a gente se sente impotente perante esta situação, porque você sabe que sua música está tocando, mas o repertório, que é o que vale para o Ecad, e entregue pelo contratante ou produtor do evento, não é o que está sendo tocado. Nem sempre o artista ou contratante entregam o repertório errado, mas a maior dificuldade está aí.
ABRAMUS: Você acha que precisa de uma conscientização geral, desde o produtor do evento e contratante ao artista?
MM: O artista muitas vezes coloca no repertório músicas de sua autoria pra arrecadar e canta outra. Não estou generalizando, mas isto acontece. Muitas vezes o contratante inventa um repertório por não conhecer as músicas e o Ecad, infelizmente, não tem condições de gravar todos os shows que acontece no Brasil. Então, a gente tem que contar com o bom senso e honestidade do artista e do contratante. Como isso não acontece com frequência, eu e muitos compositores sofremos porque não arrecadamos o que teríamos de direito. Aí vira uma bola de neve porque a gente recebe menos, produz menos e nossa música vai ficando mais fraca com menos qualidade
ABRAMUS: O direito autoral de show é uma remuneração importante para muitos autores, inclusive para os que dependem disso para viver, não é mesmo?
A briga da gente por receber show, é porque o show é o nosso salário, é o salário do compositor, porque a distribuição é mensal. Não é que queremos ganhar mais, mas sim o que é de direito. Tocou, paga. Na maioria das vezes, culpam quem é mais fácil de culpar, que é o Ecad. Tem artista que nem sabe que o repertório tem que ser entregue, ou que nem sabe o repertório que seu produtor ou o contratante está entregando. Existe um problema que as pessoas tem que estar atentas, principalmente o público precisa saber que aquele ingresso que ele paga, uma parte é pra pagar os autores pra eles continuarem escrevendo. Todo mundo que trabalha tem que ter um salário e o nosso sai de show, sai de execução pública. Se as pessoas não pagarem, nós não temos salário.
A gente apela pelo bom senso e a conscientização do produtor para entregar o repertório certo, assim como o artista. E o artista tem poder de falar uma vez por semana com o pessoal do seu escritório, diretor musical, contratante e verificar o repertório enviado ao Ecad e não permitir que qualquer coisa seja escrita. Não é porque o Ecad não pode monitorar tudo, que as coisas erradas tem que ser feitas. A gente corrige isso a partir do momento que o artista cobrar do contratante que entregue o repertório que ele canta.
E o contratante que muitas vezes fala “eu não pago porque não sei se chega na mão do artista”. Se você pagar e entregar o repertório que for executado, com certeza vai chegar na mão dos autores.
ABRAMUS: Quais são seus projetos futuros?
MM: Eu vivo sonhando acordado, eu vivo de projeto e buscando em que eu posso contribuir pro mundo que eu vivo de música. O que que tá faltando que a gente tem que inventar, desde uma música a um projeto. Este ano estamos inaugurando o estúdio da MM, gravadora. A função de uma gravadora gravar e elas tem esquecido de gravar. Então a MM inaugurou este ano o estúdio onde a gente vai gravar artistas, nossa função é gravar e levar para o público. Vamos gravar os novos e consagrados, aquele que tiver precisando ou que a gente achar que é interessante mostrar.
Inauguramos nossa segunda filial que é em Uberlândia (MG). Fechamos um contrato com a BMG para o mundo, a MM vai ter seu catálogo representado pela BMG, que é uma grande empresa, no mundo todo. Então nossos compositores sabem que do jeito que a MM cuida das composições dele no Brasil, a BMG vai cuidar no resto do mundo. É a música brasileira indo para o mundo, ao contrário do que foi por muito tempo, que era só a música internacional entrando no Brasil. Estes são nossos projetos, além de continuar fazendo música, compondo, investindo em compositores e artistas novos, lançando produtos, trabalhando nosso canal do Youtube que é uma TV e está crescendo, investindo em produções próprias, clipes. Estes são nossos projetos, por enquanto, porque todo dia podem aparecer coisas novas