No dia 17 de abril, a chapa Renovação venceu as eleições da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI). Encabeçada por Felippe Llerena, ela superou uma disputa acirrada (foram 23 votos contra 20 da situação) e irá comandar a entidade até 2027.
Felippe Llerena é um empreendedor do mundo da música. É um negociador experiente, multicultural e amplamente viajado, com experiência prática nas indústrias de música, web, wireless e conteúdo digital. Ele tem fortes relacionamentos com empresários de artistas, plataformas digitais, gravadoras, empresas de mídia, marcas, fornecedores de tecnologia, bem como com artistas e compositores. Empreendedor, pioneiro na distribuição digital legal, especializado em identificar e desenvolver novas oportunidades de negócios na indústria criativa.
Em entrevista para o site da Abramus, ele fala de suas expectativas para a entidade.
Desde 2002 que duas chapas não competiam pela presidência da Associação Brasileira de Música Independente. Qual o porquê dessa falta de concorrência e de vocês terem se candidatado?
A ABMI jamais teve uma chapa concorrente. É importante lembrar que nos primeiros 15 anos, de 2000 a 2015, o mercado passou por uma transformação significativa e a indústria musical enfrentou desafios únicos, comparáveis apenas a outros setores como fotografia e jornalismo. Enquanto o jornalismo se adaptou a essa nova era, a indústria da fotografia testemunhou o declínio de gigantes como a Kodak, devido à ascensão dos smartphones, levando toda a cadeia produtiva ao desaparecimento. No entanto, a indústria da música encontrou seu lugar em uma nova realidade, impulsionada pelo consumo democrático e a mudança para uma indústria de acesso, mais focada em serviços do que em produtos físicos. Diante dessas mudanças recentes, sentimos que seria benéfico trazer novas perspectivas para a direção de nossa associação.
Quais os planos para a ABMI em curto, médio e longo prazo?
A ABMI é um berço de talentos e inovação na música independente brasileira. Testemunhamos um crescimento exponencial em nosso mercado, tanto entre os criadores (produtores, cineastas, compositores) quanto entre o público consumidor. O advento dos smartphones trouxe consigo novos públicos e consumidores, criando oportunidades sem precedentes. A música de periferia, por exemplo, alcançou um patamar histórico de reconhecimento, impulsionada pelo poder do YouTube e das redes sociais. A ABMI está comprometida em acompanhar essas mudanças, oferecendo capacitação, expandindo nossa base de associados e aumentando os benefícios oferecidos. Pretendemos facilitar a interação entre os associados e ampliar o alcance dos talentos regionais. É importante ressaltar que nossa indústria agora é mais desenvolvida por CPFs do que por CNPJs.
Hoje em dia, as gravadoras multinacionais se tornaram praticamente distribuidoras de discos. O artista entrega o trabalho praticamente pronto, há pouco investimento em novos nomes. Você acredita que nesse ponto os independentes são mais comprometidos com essa relação artista/A&R?
Na verdade, há mais capital e uma quantidade sem precedentes de dados e métricas disponíveis para investimentos no mercado da música. Nunca houve tanto incentivo e investimento como agora. Costumo pensar que não é a falta de capital que limita os projetos, mas sim a sua concepção.
Os artistas independentes geralmente são mais ágeis devido à natureza flexível do negócio em que atuam. Isso não significa que sejam menos profissionais, apenas que possuem uma abordagem mais leve e espontânea. A responsabilidade dos profissionais em grandes gravadoras é, naturalmente, maior do que a de um produtor em uma gravadora independente.
Por favor, fale um pouco da sua grande experiência no mercado do entretenimento e destaque as qualidades de seus companheiros de chapa – que são incríveis.
Eu cresci no cenário independente da indústria musical. Iniciei minha jornada em 1992 com a fundação da Natasha Records, quando ainda lançávamos vinis e cassetes e testemunhei o início da era dos CDs. Tive a oportunidade de estabelecer relações com as grandes gravadoras devido à distribuição de nosso catálogo. Ao passar pela EMI, BMG e Sony, absorvi diferentes culturas de trabalho e aprendi muito com os profissionais dessas empresas. Enquanto um funcionário geralmente se concentra em uma área específica, nós éramos expostos a todos os departamentos, proporcionando uma experiência inestimável. Da mesma forma, todos os membros da nova diretoria da ABMI têm uma rica bagagem de experiências no mercado independente, o que nos enche de orgulho por termos crescido e prosperado nesse ambiente singular. Cada um traz um conhecimento incrível oriundo de diversas companhias, áreas de atuação e principalmente: de respirarem o mercado independente.
O Brasil está entre os dez maiores consumidores de música do mundo. Qual a parcela dos independentes nesse bolo? O que você pretende fazer para aumentá-la?
Roberta Pate, líder de negócios do Spotify no Brasil, compartilhou uma notícia empolgante: em 2023, o Spotify contribuiu com US$ 9 bilhões para a indústria musical. Metade desse valor foi gerado pelo catálogo de artistas independentes e aqueles vinculados a gravadoras independentes. No Brasil, mais de 70% das receitas provenientes de artistas brasileiros no Spotify vieram de fontes independentes. Isso é incrível, não é? Estamos testemunhando uma era excepcional para o mercado independente. Precisamos unir esforços para aumentar nossa presença nas rádios, séries, TV e em outros meios – este será um desafio emocionante nos próximos anos.