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Ex-tecladista do Skank, agora solo, analisa as mudanças do mercado.
A primeira vez que escutei uma música da minha banda no rádio, eu tinha menos de dezoito anos. Resumindo, isto aconteceu há quase quarenta anos. Mas o que isto significou em termos práticos? Sinceramente, quase nada. Foi muito mais uma realização pessoal dos integrantes do que um momento transformador para uma banda desconhecida.
Independentemente de quando isto aconteceu ou qual tecnologia foi utilizada, o caminho para se tornar conhecido não mudou. Todo processo de divulgação passa pela massificação e distribuição da informação. Se você escolher as rádios, terá que fazer um acordo para que a sua música toque muitas vezes e assim ela se torne conhecida. Caso prefira as redes sociais, terá que impulsionar um post para que ele seja visto pelo maior número de pessoas possíveis. Nas plataformas de streaming, você seguirá o mesmo caminho, cavando lugares em playlists. Por fim, sendo de sua preferência outro caminho, como tentar criar um viral, você estará fazendo a mesma estratégia de quando o cineasta Orson Welles divulgou que a terra estava sendo invadida em 1938, que no final nada mais era que uma campanha de marketing do filme “A Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells. Qual a novidade? Só mudamos as ferramentas.
Quando o Skank gravou o seu primeiro álbum, de forma independente, em 1992, não fizemos uma tiragem em vinil, que era o padrão da época. Lançamos somente em CD, que era a tecnologia inovadora do momento. Fomos a primeira banda independente a lançar nesta mídia. Fabricamos três mil CDs (juntamos dez mil dólares para gravar o álbum e um videoclipe). Enviamos o material, via correio, para quinhentos formadores de opinião. Foi uma aposta arriscada, pois nenhum integrante do Skank tinha aparelho de CD em casa para escutar o próprio álbum.
Com o CD gravado e uma filmagem tocando ao vivo, partimos em busca de uma gravadora. O resto da história vocês já conhecem. A divulgação do nosso primeiro álbum, em 1993, lançado pela Sony, foi feita baseada em entrevistas para poucos jornais de alcance nacional, muita divulgação de rádio e alguns programas de televisão.
No nosso último álbum de estúdio, o “Velocia” (lançado em 2014), fizemos algo próximo de sessenta entrevistas para veículos de comunicação de todo o Brasil. Esta foi a grande mudança em todos estes anos. A atual fragmentação da audiência não permite mais que um grande número de pessoas tenham acesso a todas as informações. Para alcançar o mesmo volume de público que atingíamos, com poucas entrevistas, é necessário um esforço muito maior. Porém, se já não atingimos tanta gente, agora temos a possibilidade de escolher com quem vamos falar. Podemos escolher localizações especificas, sexo das pessoas, idade, classe social e outros detalhes.
Então, qual dos mundos é melhor? Confesso que não sei. Antes era difícil passar pelo filtro de uma grande gravadora para poder utilizar sua poderosa máquina de divulgação. Lançar de forma independente era praticamente assumir ser um artista de segunda linha.
Agora, todo mundo pode lançar o seu álbum, muitos até preferem ser independentes. Não é tão difícil ganhar seu momento de super-exposição. A síndrome do segundo álbum sempre existiu e continuará, pois o mais difícil é se manter relevante por muito tempo.
O fator determinante ainda é o quanto um artista quer viver exclusivamente da sua arte. Assim como no esporte, viver de arte só é possível com dedicação de 100%. Eu deixei a vida de funcionário de uma multinacional para me dedicar à paixão e ao sonho pela música. Faria tudo novamente, pois acredito que vale muito a pena realizar os sonhos.
Henrique Portugal é músico, empresário e representante do escritório da Abramus (Associação Brasileira de Música e Artes) em Belo Horizonte
Texto originalmente publicado no site da Billboard Brasil, em 26/06/2024. Veja aqui.