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Rogê depura as ideias

Fonte: O Globo – Por Leonardo Lichote

Com o nobre reforço de Wilson das Neves (no dueto e na parceria), Rogê canta: “Ando depurando as minhas ideias” em seu novo disco, “Brenguelé” (Coqueiro Verde). Preciso, o verso. O CD soa exatamente como fruto de uma bela depuração das boas ideias que o artista já havia apresentado antes de forma diluída — em meio a pastiches de Bebeto e à afirmação de uma carioquice ixperta destituída de substância. Mas “A vida não para/ (…) Pra quem não se entrega”, afirma ele na mesma canção, versos depois.

Rogê não se entregou e fez um CD que não carece de substância e no qual, em vez de pastiche, há diálogo realmente esperto com as referências. A seu lado, dividindo méritos, estão Kassin (produtor), Francisco Bosco (creditado, com Rogê, pela “concepção artística”), parceiros (como Seu Jorge, Marcelinho Moreira, Alvinho Lancellotti, Gabriel Moura e Arlindo Cruz), e uma ótima banda (com, entre outros, Lincoln Olivetti, Alberto Continentino, Zé Bigorna, Paulo Braga e Marlon Sette, responsável pelos arranjos de metais que conjugam originalidade e sabor clássico, linha Copa 7 e Black Rio).

Os companheiros somam, mas não se afirmam sobre Rogê. O compositor está lá reconhecível e fiel ao seu estilo. Mas agora seu samba-rock está com os pés mais fincados no chão — mais para Marku Ribas, para o “África Brasil” de Jorge Ben.

“Presença forte” abre o disco mostrando que a essência segue, com a louvação à musa de “pele cor de jambo” e os lalalaiás, mas agora turbinada com a elegância pop-retrô dos teclados de Olivetti e uma carioquice menos impositiva, mais natural. A mesma frequência ensolarada, praiana — que conversa com os verões de Marcos Valle dos anos 1980 — aparece em “Olê olê”, “Acertando os ponteiros” e “Rema”.

No disco, mais que circular pelas areias e baixos, Rogê procura estabelecer suas filiações. Há certa espiritualidade no olhar sobre a música em “Minha glória”. As escolhas certeiras de um Tim Maia (“Over again”) e um Wilson Moreira & Nei Lopes (“Efun-oguedê”) sintetizam o território do artista.

O mapa do Rio que o sustenta é traçado em “Na veia” (com participação do parceiro Arlindo) — um “Endereço dos bailes” do samba, memorialista mas não saudosista. O balanço de gafieira malandro, no sapato, está em “Depurando ideias”. “Deixa ela sambar” visita o tema já explorado por Donato, Chico, Ben e Martinho, citando a todos. Na base, está a África, celebrada em “Tem tambor”, “Efun-oguedê” e “Brenguelé” — baseada em baseado (“erva do mato”, “deixa a fumaça entrar”, “cabeça feita”), a canção fecha o CD com sua cara de encerramento de trabalhos.

As faixas-bônus “Lagoa” (samba-enredo-de-salão sobre a Rodrigo de Freitas) e “Mais um mais uma” (na linha dos sambas sociais da geração Cacique) encorpam ainda mais o disco sem macular a unidade que se encerra na faixa “Brenguelé”. Sem nada de diluição — ficou só o sumo.

 

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