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Sintonizando com Mary Olivetti

Publicado em 13/11/2022.

DJ com 20 anos de experiência, produtora, curadora, Diretora de Criação e executiva da música; mas pode chamar de Mary Olivetti.

A multi talentosa artista faz da House Music seu principal instrumento de trabalho, mesclando bases sonoras fincadas na música brasileira e em estilos como Soul, Funk (que chega ao carioca) e Dance Music ao Disco, ao Boogie e até à sofisticação do Jazz, sendo que para ela cada set é um set.

É toda essa polivalência desenvolvida em duas décadas de estrada que ela traz para essa entrevista exclusiva para a Abramus. Fique à vontade e sintonize!

1- Você cresceu no meio musical com grandes inspirações ao seu redor. Qual importância e como estas referências influenciaram na sua carreira?

Ter crescido envolta por tanta música e gente interessante com certeza me ajudou na construção de memórias e referências que se refletiram em minha carreira de forma positiva. O fato de eu nunca ter feito sequer uma aula de canto ou piano quando criança já seria um prenúncio de que minhas escolhas sobre trabalho ficariam inteiramente por minha conta. Eu acredito que a maior de todas as escolas tenha sido exatamente esta vivência que meus pais me proporcionaram dentro de casa. O estúdio sempre foi meu lugar preferido, meu habitat natural, e ali bebi direto da fonte. Como toda criança tinha lá meus brinquedos, mas o que mais adorava era consertar aparelhos, cortar fios, conhecer ferramentas, abrir fitas e disquetes, e isso me rendeu uma facilidade tremenda com os eletrônicos quando adulta. Tinha loucura pela máquina de solda que quente fazia bolinhas de metal, amava fazer som com a Linn Drum da mamãe, com o Rhodes do papai, desbravava o primeiro desktop Apple que já estava lá jogado como velharia no quartinho de trás. Eu era quase uma máquina, afinal já havia nascido “Olivetti” (risos). Quando adolescente tive acesso à recém-nascida internet discada e isso me transformou em uma boa pesquisadora e seletora musical, o que me levou aos discos. Meu caminho como DJ foi dedicado à House Music, paixão pura e exclusivamente minha, nada que eu tivesse experimentado enquanto criança. Criei minha identidade em uma atmosfera que poucos sabiam quem eram os Olivetti, apesar de sempre ter sido uma declarada amante da cultura e música brasileira.

2- Como se deu sua conexão com o universo da música eletrônica?

Quando completei 18 anos caí na pista e nem esperei os 19 pra começar a tocar. Naquela época a música eletrônica fervia ao redor do mundo, não tive como fugir e nem queria fugir. De lá pra cá fui curiosa e busquei a história, fiz pesquisas que até hoje considero intermináveis, viajei pelo mundo tocando e ouvindo música eletrônica e tive a sorte de conhecer pessoas incríveis que me ensinaram o real fundamento da mensagem “House Music”.

3- Nestes seus 20 anos de carreira, quais foram seus maiores desafios?

Um dos maiores desafios é eu sempre estar buscando me renovar, estar fresca, entregar um bom repertório, levar felicidade ao público sem sequer pensar em possíveis problemas pessoais do cotidiano. Outro grande desafio é ter sabedoria e serenidade suficientes para entender qual é a hora certa de fazer pausas a fim de realizar sonhos pessoais.

4- Você é DJ, produtora, curadora de trilhas sonoras do mundo da moda, diretora de Criação e executiva da música. Como é pra você conciliar todos esses trabalhos?

Como boa virginiana até que consigo administrar tantas funções numa boa (risos), mas não é sempre que estou mergulhada em todas. Por eu ter uma agenda de shows, o “djing” está presente diariamente na minha agenda, é a prioridade absoluta, preciso estar up to date com os lançamentos e o pendrive perfeitamente organizado. Minha carreira como curadora musical é algo que adoro. Assino trilhas sonoras para o mercado de varejo há 20 anos contabilizando centenas de marcas atendidas, e há 13 anos em parceria com a Radio Ibiza entrego mensalmente seleções estudadas com esmero para cada um de meus cliente. Na faceta “produtora” tenho finalizado menos trabalhos do que gostaria mas me considero satisfeita com o que entrego. Tenho feito remixes por encomenda (em dezembro teremos o lançamento de um remix para o Jota Quest), e também tenho trabalhado em três faixas autorais, fora os edits que construo para tornar meus dj-sets especiais. Por fim, cuido do espólio de meu pai e este é um trabalho sério que envolve família, advogados, consultoria e sobretudo muito estudo de minha parte. Este trabalho é burocracia pura mas também possui uma vertente que amo, o garimpo. Ano que vem lançaremos uma pérola, um belíssimo disco novo com faixas garimpadas de Lincoln e Robson. Estou ansiosa.

5- Você participou 3 vezes do Rock in Rio e, nesta última edição, com um sabor especial: celebrando 20 anos de carreira e no dia dedicado somente às mulheres. Como foi para você fazer parte deste line-up?

Analisando cada uma destas três apresentações sinto que todas elas tiveram uma característica única. Em 2011 tive a incrível sensação da estreia no maior festival do planeta. Em 2015 a emoção de fazer um show acompanhada de grande banda homenageando meu pai. E a gora em 2022 todos nós tivemos muito o que comemorar com a maior edição de todos os tempos, a edição do reencontro pós pandemia, foi uma explosão de felicidade. Estou realizada em ter completado duas décadas de carreira no palco do New Dance Order, assim como em tantas outras gigs maravilhosas que 2022 me proporcionou. Foi um ano muito positivo.

6- Como você vê a participação das mulheres nas suas áreas de atuação?

Com otimismo. Faço um contraponto com minha própria vivência. Quando comecei a tocar haviam poucas DJs atuando no Brasil, algumas dezenas talvez. Hoje, 20 anos depois, temos algumas dezenas de milhares. Ao mesmo tempo, hoje quando começo a produzir reparo em algumas dezenas de semelhantes, o que me leva a crer que em 20 anos seremos centenas, milhares, e por aí vai. Nós podemos, temos toda a força e perspicácia necessárias para fazermos acontecer, precisamos de incentivo e inspiração. Um detalhe: a igualdade de gênero é uma luta constante e só percebemos que poderíamos ser quem quisermos tardiamente, portanto é natural que existam hoje menos mulheres no mercado da música. Em algumas décadas o mercado estará bem mais equilibrado. Fingers crossed.

7- Quais são seus novos projetos e projetos futuros?

Compor mais, produzir mais, tocar mais… Onde estiver a Música, que eu esteja também.

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