Publicado em 14/04/2021
Começando pelo começo. NFT é uma sigla em inglês que significa “Non Fungible Token”, ou seja, um token não fungível. Só que isso não diz muita coisa.
Na definição do dicionário, fungível é: “que se gasta, que se consome após o uso. Passível de ser substituído por outra coisa de mesma espécie, qualidade, quantidade e valor”. No bom português, o exemplo mais óbvio é o dinheiro, já que qualquer nota de mesmo valor é intercambiável e pode ser substituída.
Já algo não fungível seria único, ou no mínimo raro e insubstituível. Um exemplo claro são as obras de arte, como pinturas. Mesmo que possamos negociá-las atribuindo um valor monetário, cada quadro é único.
Pois bem. Feito esse alinhamento, partimos para a parte do token, que neste caso também envolve o conceito de blockchain (entenda melhor aqui) e funciona basicamente como uma escritura, mas de algo digital, não físico.
O NFT criado e armazenado no sistema de blockchain oferece uma segurança inédita para artistas visuais digitais. Uma vez criado, o NFT não pode ser apagado nem alterado, passando a funcionar quase como um certificado inviolável da obra. Se torna assim uma ferramenta importante para coibir falsificações e usos sem autorização. A dinâmica do negócio, ainda em evolução é explicada de forma simplicada mas esclarecedora por Luiza Pollo (leia matéria completa aqui)
No entanto os direitos autorais não mudaram. Todo autor continua detendo os direitos sobre sua obra, com ou sem NFT. Por isso, para qualquer reprodução, continua valendo entrar primeiro em contato com a AUTVIS que representa diversos artistas nacionais e internacionais no Brasil (saiba mais aqui).
Assegurada a originalidade e autoria da obra, abrem-se as portas do digital para os colecionadores. Uma obra de arte digital com um NFT é única e apesar de ainda ser possível copiá-la digitalmente infinitas vezes, apenas uma, a original, terá um “selo” de autenticidade. Ultimamente, o que não faltam são interessados em adquiri-la, mesmo que seja só um investimento especulativo. Sabemos que os leilões são uma parte vital do mercado das artes visuais físicas. Agora, também ganham grande relevância no digital.
Um aspecto interessante das NFTs é que elas criaram uma aplicação digital do Direito de Sequência, que é o direito do autor de receber uma porcentagem do lucro sobre a revenda de uma obra sua. É um direito reconhecido mundialmente, mas ainda pouco respeitado no Brasil.
No vídeo abaixo, Thiago Nigro explica de forma resumida o conceito geral do NFT e algumas aplicações que estão sendo discutidas e realizadas.
“Tá certo. Acho que entendi o conceito, mas o que isso tem a ver com a música?”
É aí que a nossa conversa esquenta! Como vimos acima, no mercado de artes visuais digitais, o NFT já é uma realidade que cresce exponencialmente. Na música, iniciativas começam a acontecer, porém com algumas diferenças a serem consideradas.
O conceito de NFT é muito baseado em escassez, coleção e ostentação. Se traçarmos um paralelo com o mercado físico mais tradicional, não é difícil ver que isso já é muito mais presente no mercado de arte visual do que no da música. Leilões milionários de peças de arte são muito mais recorrentes do que peças de músicos.
Existem sim vários colecionadores de itens relacionados à música, mas sabemos que isso é um nicho, já que a música se sustenta mesmo pela massiva realização de shows e venda de álbuns, assim como recolhimento dos direitos autorais. Por isso o NFT talvez não signifique a mesma revolução no mercado de música digital que está sendo no de artes visuais digitais.
Por outro lado, nada impede que se torne sim uma fonte interessante de renda, especialmente se pensarmos que a música também pode se apoiar em recursos visuais para agregar valor. Talvez não faça muito sentido comprar um NFT único do áudio daquela sua faixa favorita do seu grande ídolo, já que qualquer um pode ouví-la em uma plataforma de streaming até cansar. Porém, imagine a gravação em vídeo de um show intimista do seu ídolo, que vai à leilão para um único sortudo ou sortuda curtir. Já dá para visualizar alguns fãs mais apaixonados (e com dinheiro) se degladiando para arrematar o arquivo. E mesmo se não forem os fãs, especuladores sempre estão de olho em oportunidades de investir em algum ativo que pode ser repassado no futuro. Coisa que o NFT permite.
Então vamos lá. Mesmo sendo um nicho, não é algo a ser ignorado, como mostram artistas internacionais (Kings of Leon, 3LAU e deadmau5) e nacionais (André Abujamra, Uno de Oliveira, Urias e Pabllo Vittar). Demos um exemplo acima, mas o único limite é a criatividade do artista e seu staff. Um ponto a ser considerado é que o NFT pode ser tanto único, como parte de uma coleção reduzida de “cópias”. Então já vemos artistas lançando álbuns via NFT com, por exemplo, 100 cópias numeradas. Isso permite não fechar tanto as portas para os fãs “normais”, ao mesmo tempo que pode aumentar a renda total da venda.
Outra coisa a ser considerada nesta corrida do ouro é que a criação de um NFT tem um custo (hoje por volta de US$70). Então, antes de sair “mintando” (termo semelhante a “cunhar” relacionado à criação de um novo NFT) toda a sua discografia, avalie com calma os possíveis cenários. Sem falar nas questões jurídicas, que ainda são meio nebulosas e demandarão muita negociação para se criar um sistema justo.
Como toda nova tecnologia, o jogo ainda está em aberto e muita coisa pode mudar. Estamos falando de uma fase de transição altamente especulativa, que já atrai os mais antenados, mas ainda está longe de ser compreendida pelo grande público. É até possível que no futuro o NFT derrube a hegemonia dos streamings como o foco da indústria. Porém, tendemos a acreditar que eles coexistirão, atingindo diferentes públicos e objetivos.
De qualquer forma, a tecnologia abre portas para os artistas experimentarem novas formas de se relacionar com os fãs e monetizar seu talento, saindo um pouco da massificação e voltando à originalidade. E isso é sempre uma boa notícia.
Nos cabe continuar acompanhando as mudanças e oferecendo informação e apoio aos nossos associados. Continuem ligados nas nossas redes sociais para saber das evoluções do NFT e as próximas novidades que surgirem.
Fontes: Music Non Stop e Terra