Publicado em 19/02/2021
Dom Chicla teve sua formação musical na região de Cajazeira, com o mestre de percussão Bira Monteiro. Sua primeira atuação como músico, foi no grupo Sarau, tocando Surdo e fazendo os Vocais. Posteriormente, o Sarau virou o Grupo Trinta Sessenta, conseguindo projeção nacional com as canções autorais: Dança do Esquisito e Rodopiô. Formou a Banda Conexão Negra, que imortalizou a canção “Paixão antiga” de sua autoria (e uma interpretação maravilhosa do Harmonia do Samba com Gilberto Gil, entre outras), e difundiu o Samba de roda autoral da Bahia. Tem sucessos gravados por grandes artistas como Gilberto Gil e Ivete Sangalo.
Já ministrou na Alemanha, uma oficina com crianças, onde trabalhava os sons percussivos que o próprio corpo pode gerar e é fundador do Núcleo Percussivo “Som de Guri”, com crianças do Bairro de Cajazeiras.
Neste bate-papo, Dom Chicla conta um pouco mais sobre sua carreira e o que já viveu na música. Sintonize para saber mais sobre esse brilhante artista do cenário cultural brasileiro.
Quando descobriu seu dom para música?
Eu na verdade estou sendo descoberto a cada dia pela música e acredito que meu dom é descoberto todo dia um pouco. Incrivelmente eu comecei tarde em relação aos meus irmãos que já são músicos desde de criança. Eu percorri outros caminhos para me encontrar onde estou hoje. Eu sinto a matriarcal música me afagar e dizer meu filho. É assim que sinto meu dom percorrer minha alma.
Quais suas influências?
Eu sou africano, nascido no Brasil, então dentro de mim existe um turbilhão de sons e pensamentos harmônicos e rítmicos. Sou influenciado por artistas inquietos e atemporais. O Samba é minha base, começa com meu pai o grande sambista Roque Betequê. Eu nasci no Rio de Janeiro no hospital Carlos Chagas, morei no bairro de Bento Ribeiro até os 08 anos quando minha mãe resolve voltar para Bahia e fomos para Salvador morar no bairro da Fazenda Garcia e lá encontrei meu pai e todos os meus parentes, a maioria sambistas de primeira qualidade.
Por muitos anos recebi uma forte influência do Samba brasileiro através de todo aquele universo que meu pai e o grupo Bahia Samba e vários outros sambistas da época mostravam para mim, mesmo que indiretamente eu fui atingindo em cheio pelo Samba para sempre.
Mas eu não fiz carreira no samba, sempre gostei de descobrir e tocar novos ritmos e como sempre tive aptidão para ser percussivo eu recebi o convite do meu professor de percussão, Bira Monteiro, para ingressar na escola de dança da FUNCEB. Lá minha cabeça abriu de forma mundial e minhas influências se multiplicaram. Mas já a Música Popular Brasileira é minha maior paixão. Gonzaguinha, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Riachão, Jackson do Pandeiro, Gal Costa, Maria Betânia, Beth carvalho, Sandra de Sá, Jovelina Pérola Negra, Cesinha Pagodeira, Muniz, Ederaldo Gentil, Nelson Rufino, Zeca Pagodinho, Luiz Gonzaga, Carlinhos Brown. São muitos!! Não caberiam todos aqui. Eu sou influenciado pela pluralidade dos meus sentimentos e principalmente por música boa.
Você tem composições gravadas por grandes artistas. Como foi esse caminho para suas canções chegarem até eles?
Na verdade tive o prazer e a honra de ter sido gravado por grandes artistas da música popular brasileira e este é meu maior legado. Eu tenho certeza que para nós aqui em Salvador o icônico estudio WR discos fundada pelo nosso saudoso Wesley Rangel foi a principal ponte durante muitos anos para nossas composições chegarem até os artistas. Depois que você é gravado por um artista, os outros também te procuram e era na WR que se podia ouvir os maiores hits que o Brasil. Cantou e dançou.
Você tem uma composição muito famosa ‘Paixão Antiga” que é um samba que fez sucesso não só no Brasil, como em outros países. Como o samba faz parte da sua vida e te influencia na sua carreira?
O Samba é minha Alma e ele me permitiu chegar no mundo com minhas canções. Paixão Antiga é a prova viva de que o Samba mora em mim.
Você em 2004, ministrou na Alemanha, uma oficina com crianças, intitulada Oficina do Corpo. Conte-nos sobre este projeto e se já pensou em realizar este projeto no Brasil.
A oficina do corpo foi uma forma que tive para me comunicar com as crianças, quando em 2004 fui visitar minha mãe e minha irmã que moram na Alemanha desde 1995. Sem saber falar o alemão me comunicava através da percussão corporal. Algumas crianças que moravam perto da casa de minha mãe me viam e ficavam curiosas, e queriam interagir comigo. Foi aí então que organicamente nasceu a oficina do corpo. Durante os sessenta dias que fiquei no país, visitei 06 escolas e ministrei a oficina para muitas crianças e adultos também. No Brasil tenho planos mais ambiciosos, que é levar a oficina para as diversas comunidades carentes, para nos oportunizar esta troca e fortalecer laços, que por uma série de fatores foram enfraquecidos, porém existem e podem nos reaproximar uns dos outros. A percussão é a mãe da comunicação humana.
Quais seus projetos atuais e para o futuro?
O nosso presente chama-se Park Sonoro!!! Com 13 anos de existência e uma discografia que está sendo disponibilizada nas plataformas digitais, o Park traz minhas composições e de meus parceiros e nossa forma de sentir a música. Aquele turbilhão de sentimentos harmônicos e rítmicos sendo traduzindo na composição. Paulo Nascimento é um dos criadores do Park Sonoro. Juntos nós escrevemos e arregimentamos nossas canções. O nosso futuro já é o novo álbum Vinil de Dendê com previsão de lançamento para setembro de 2021. Ainda este ano eu recebi o convite do Diretor de cinema Chico Kertezs, para juntos produzirmos meu primeiro disco de Samba solo. Que se chamará “Dom Samba” e terá 05 faixas inéditas. Trabalhar, trabalhar e trabalhar!!! Este é o futuro de qualquer artista que ama o que faz.
Confira alguns destaques do trabalho de Dom Chicla:
Dom Chicla feat. Clariana – Vivo No Teu Olhar (Clipe Oficial)
PLUGADO | Dom Chicla – Deixa Lá
PLUGADO | Dom Chicla – Voltas ao Mundo
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