Armandinho comemora mais um Carnaval e os 70 anos do trio elétrico

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Armandinho comemora mais um Carnaval e os 70 anos do trio elétrico

Foto: DR – Direitos Reservados

A história do Trio elétrico no carnaval da Bahia se confunde com a trajetória do instrumentista e compositor Armandinho, herdeiro de toda esta tradição. A história começa em 1950, quando o Clube Carnavalesco Vassourinhas do Recife, em viagem para o Rio de Janeiro, fez uma escala em Salvador. Convidados pela Prefeitura para uma apresentação, o Vassourinhas empolgava a todos quando um acidente com um dos músicos pernambucanos interrompeu o desfile. Percebendo a frustração do público, Antônio Adolfo Nascimento, o Dodô, e seu amigo Osmar Álvares de Macedo, ligaram à bateria de um calhambeque um violão elétrico e um protótipo de uma guitarra: nascia assim a lendária dupla Dodô e Osmar. Em 1951 Dodô e Osmar trocaram o calhambeque por uma picape e convidaram outro amigo, Temístocles Aragão, que tocava o triolim, uma guitarra-tenor. Estava formado o Trio Elétrico. Dois anos mais tarde, outros grupos passaram a copiar a invenção, acrescentando mais alto-falantes e geradores adicionais, consolidando o conceito criado pela trinca de músicos. 

Filho de Osmar, Armandinho nasceu e foi criado dentro do Trio Elétrico: “A gente brincava em Trio desde pequenininho, porque havia a metalúrgica do meu pai e a gente morava em frente: ele saía de lá tocando e eu, desde menino, assistia a tudo isso. Não deu outra: com dez anos de idade meu pai fez um Trio mirim e saí tocando com os primos, amigos, o filho de Dodô. O meu melhor brinquedo de infância era o trio elétrico, brincar no trio”, pontua o baiano.

Apesar do DNA pernambucano, Armandinho garante que toda aquela invenção é bem baiana: “Na verdade o Trio Elétrico é uma coisa totalmente baiana. O que aconteceu foi que em 1950, alguns dias antes do Carnaval, veio uma orquestra de frevo à Salvador. E aí Osmar, meu pai, que já gostava de frevo, viu que aquela era uma música forte, de rua, e a ligação vem daí. O frevo pernambucano ganhou um sotaque baiano, como diz a música de Moraes Moreira. O caminhão, o Trio Elétrico, tudo isso é uma criação totalmente baiana que hoje brilha nos carnavais de rua de Pernambuco, do Rio de Janeiro, de São Paulo…virou um grande palco para a festa do Carnaval.”

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Mais do que um instrumentista e compositor, Armandinho herdou do pai o dom da invenção: “Olha, quando eu fui para o grupo A Cor do Som, levei aquele cavaquinho elétrico e o transformei numa guitarra: botei uma quinta corda e batizei de guitarra baiana. Foi uma influência natural do trio, minha escola musical, e ela se incorporou à música que o Mú Carvalho e o Dadi Carvalho, ambos da A Cor do Som, traziam. A gente fez uma mistura da música brasileira mais ligada no pop, no rock, a tudo o que acontecia nos anos 60, 70, como Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix. Então, A Cor do Som tem um pouco de tudo isso e mais o chorinho, a influência de Ernesto Nazaré, Jacó do Bandolim. Aliás, sobre criar instrumentos, eu também coloquei a quinta corda no bandolim, o Hamilton de Holanda hoje é o maior divulgador dessa versão. Estas criações mudaram a sonoridade de uma parte importante da música brasileira”, conclui.

Ser herdeiro desta tradição traz um compromisso com a alegria e uma grande dose de emoção para Armandinho: “Eu me emociono quando ouço falar em Trios em lugares até fora do Brasil. Sobretudo se você pensar que Trio Elétrico era o nome da banda de meu pai, não do caminhão. O povo acabou dando esse nome aos novos grupos que surgiam, ‘lá vem outro trio elétrico…’. A partir do momento que Caetano Veloso lançou para o mundo “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu” o meu pai deslanchou toda a história, que começou com a “fobica” (o primeiro carro que levava a aparelhagem de som) e é o que a gente faz até hoje. Aliás, o meu nome no Trio foi uma imposição do meu pai, porque o nome era só Dodô e Osmar. “Agora você é quem vai conduzir o barco”, ele disse, então hoje somos Armandinho, Dodô e Osmar e estamos comemorando os 46 anos dessa banda, nascida em 1974.”

Para além das comemorações dos 70 anos do Trio Elétrico, Armandinho está com a agenda cheia de lançamentos, que vão da música clássica ao choro: “Estou lançando um disco chamado “Brasil Afro-Sinfônico”, que gravei com a nova geração do Olodum e a Orquestra Sinfônica de São Petersburgo, só com música clássica. Tenho o meu projeto, que é o “Chorinho de Armandinho”, em cima da minha história com o choro, que a minha produtora, Surama Albuquerque, chama de “o choro mais alegre do Brasil”. Eu conto toda a história musical, do Trio Elétrico à Cor do Som, e acaba virando um chorinho festivo, um chorinho bem eletrizado. Também temos um disco comemorativo aos 40 anos da Cor do Som e um com a minha parceira, Maria Vasco, que se chama “Momento Atual”. Além é claro da comemoração dos 70 anos do Trio Elétrico, com o Baiana System, Moraes Moreira, reunindo artistas mais novos e tradicionais.”

Texto: Belinha Almendra

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