O dia 20 de novembro foi escolhido para celebrar o Dia da Consciência negra. Atribuído à morte do simbólico Zumbi dos Palmares no ano de 1695, o dia é feriado na maior parte do país e uma conquista social que nos convida a revisitar e refletir sobre a participação do negro na sociedade brasileira, reconhecendo o papel fundamental que o os descendentes africanos têm para a sua construção.
É o momento de debater o racismo, discriminação, desigualdade social, inclusão de negros na sociedade e a cultura afro-brasileira, que influencia todos os campos da nossa identidade, entre eles a música.
Aproveitando também que hoje é o Dia do Músico, selecionamos alguns artistas e seus trabalhos que precisam ser escutadas por todos, a fim de aproveitar bem este importante momento de reflexão.
O rei do swing dispensa apresentações. Em sua longa carreira, sempre mostrou a forte influência que as raízes africanas têm em seu trabalho. Misturando ritmos como o funk e soul norte americano, com ritmos mais brasileiros, desenvolveu uma identidade própria, e constantemente trouxe o tema à tona, acompanhado da sua energia e alegria característicos.
Entre suas composições, “Zumbi” é sem dúvida indispensável nesta lista.
Intérprete de voz inconfundível e presença imponente, Seu Jorge já deu voz a grandes hinos da identidade negra, assim como também faz ao dar vida a personagens marcantes na sua carreira como ator.
“Olhos Coloridos”, “Nego Drama” e “Diário de um Detento” são alguns exemplos que estão imortalizados na interpretação do artista.
Filho do samba, talvez o maior símbolo da influência negra na nossa música, Dudu Nobre faz jus à missão de cantar e contar, com um talento singular, a história e a realidade da população negra no Brasil.
Sua recente participação em “20 de Novembro” de Mumuzinho, é só um exemplo mais direto, que todos deveriam escutar.
A artista encarna com muita força a luta por igualdade. Mulher, negra e deficiente física, canta e compõe com maestria a temática. Especialista em misturar vários estilos e instrumentos, vai da MPB ao Rap, do Reggae a Bossa Nova e nos encanta sempre.
“Mulheres Negras” e “Alma Negra” traduzem tudo isso muito bem.
Outra entidade da nossa música, Jorge Aragão tem centenas de composições que poderiam estar nesta lista. Dá para passar uma tarde toda apreciando o talento do artista em expor as matrizes africanas em suas canções.
Destacamos “Identidade” e também “Preto, Cor Preta” como fundamentais.
Filha do saudoso Jair Rodrigues, Luciana já cantava, desde muito nova, ao lado do pai, como na gravação de “Alma Negra”. Também deu vida a uma linda versão de “Black is Beautiful” com Sandra de Sá e Alcione, que merece ser destacada.
Entre suas composições, “Na Veia da Nega”, escrita em parceria com o irmão, Jair Oliveira e Gabriel O Pensador, foi a escolhida para entrar na nossa lista.
Pioneira do rap nacional, Negra Li é o retrato da mulher negra que se impõe e usa da música para reivindicar mais igualdade. Com presença e voz que se sobressaem, é difícil não parar para escutar suas mensagens.
Entre tanta música boa, “Raízes” é unanimidade. Só vai!
Ícone da música gospel, Kleber usa sua fé como ferramenta para espalhar mensagens de harmonia e amor entre as pessoas. Mesmo não sendo canções exclusivamentes ligadas à realidade negra, sua figura e mensagens de fraternidade se encaixam muito bem aqui.
“Vou deixar na Cruz” é um de seus sucessos que valem o play a qualquer hora.
Não dá para falar de música com identidade africana sem falar de Juçara Marçal. “Padê” e “Anganga” são exemplos de álbuns que expõe brilhantemente o talento da artista em retratar e destacar a riqueza da influência negra no nosso dia-a-dia.
Na difícil tarefa de selecionar um de seus trabalhos, “Odoya” entra na lista como uma belíssima amostra do seu estilo único.
Com muitas saudades, não poderíamos deixar de trazer o eterno “Negro Gato”. Seu legado nos deixa diversas mensagens e retratos da realidade negra imortalizados.
Para fechar nossa lista, convidamos todos a escutar “Quizumba” neste lindo dueto com Luciana Mello.
Claro que é impossível trazer todos os artistas e músicas nesta lista. Sejam homens e mulheres que já nos deixaram, ou os que estão há anos trazendo a identidade negra para a nossa música, e até os que apenas começaram esta caminhada, o importante é reconhecer o trabalho fundamental que sua arte tem nesta data.
São inegáveis as atrocidades históricas. É momento de aproveitar o dia, a semana e o mês, para de fato tirar um tempo, e refletir sobre toda essa trajetória. Mesmo que lentamente, estamos avançando para um debate mais aberto sobre os erros e injustiças cometidas, além de um reconhecimento de todo o valor que a cultura africana tem para a identidade do Brasil.
A transformação começa dentro de cada um. Aprender com erros do passado é fundamental para evoluir como sociedade. Faça sua parte e vamos juntos nesta caminhada.