Com melodia de Pixinguinha, canção ‘Carinhoso’ completa 100 anos

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Com melodia de Pixinguinha, canção ‘Carinhoso’ completa 100 anos

Neto do músico fala sobre a obra do avô e conta que composições eram quase compulsivas

Fica difícil imaginar alguém que não saiba um trechinho de Carinhoso. Graças à maravilhosa melodia (de Pixinguinha) e aos belos e sinceros versos (de Braguinha). Românticos e boêmios, principalmente, há 100 anos vêm se “aproveitando” da canção em suas conquistas.

Certamente, obra mais conhecida de Pixinguinha (composta entre 1916 e 1917), Carinhoso é o resultado de diversas coincidências, daquelas que surgem na hora e no lugar certos, avalia o pesquisador e músico carioca Henrique Cazes.

“A melodia é maravilhosa, bem como a letra feita por Braguinha. Todos os versos se encaixam no que foi criado por Pixinguinha. Se fosse futebol, todas as bolas foram para o gol, nenhuma bateu na trave. Para completar, na época, aconteceu a antológica interpretação de Orlando Silva, um ícone. Justamente por isso tudo é que o sucesso não tem receita”.

O que mais intriga Cazes – embora isso passe batido entre nós, simples mortais que soltam a voz embaixo do chuveiro – é a facilidade com que qualquer pessoa consegue cantar Carinhoso. Como assim?

“É muito, mas muito difícil cantar. É uma melodia complexa. Tem modulações o tempo todo. Ocorre que a genialidade de Pixinguinha fez com que pareça fácil. Não é. Quem não conhece a fundo, instrumentista ou cantor, vai sair do tom”.

E há ainda uma explicação a mais para a longevidade da obra, conforme o ator e cantor Marcelo Vianna, de 47 anos, neto do famoso multifacetado artista.

“A ligação do meu pai com o meu avô não era de relação consanguínea. Ele foi adotado. Um casal negro criou uma criança branca. Portanto, foi uma relação espiritual. É a analogia que eu faço entre Carinhoso e as pessoas. É quase um hino ao romantismo. Até hoje muita gente canta porque transmite uma sensação (ou emoção) verdadeira, até mesmo espiritual. Algo que somente um gênio poderia fazer. Ele era o cara naquela época”.

Lembrar o passado é uma faculdade que se manifesta diferentemente nas pessoas. Marcelo revela que quase nada tem em sua memória sobre o avô, em termos de presença física, só tinha 4 anos quando ele morreu, aos 75 anos (em 17/2/1973).

“A relação entre mim e ele se deu por meio da música dele, que me foi passada por meu pai. Sei, contado por ele, que eu dormia ouvindo os arranjos que meu avô fazia para cantores famosos em nossa casa, em Ramos (bairro carioca). Com 8 anos eu comecei a me interessar pelas obras dele, com ajuda do meu pai. Por isso entendo bem de música desde pequeno”.

Marcelo revela que todos falavam em como Pixinguinha era uma pessoa de boa índole, generoso. E bom pai. Ele fez o filho aprender piano. Foram sete anos de aulas em um conservatório. Mas chamava a atenção a questão familiar. Um branco com pais negros.

“Isso nunca afetou meu pai. A relação deles era excelente, amorosa. Mas acredito que o fato de ser filho de Pixinguinha o tenha prejudicado profissionalmente, devido às cobranças exageradas. Quem o conheceu (como Baden Powell, que gravou música do meu pai) diz que ele era talentoso, tinha muito futuro. Meu pai levou a música até onde deu. Ao abandoná-la, foi trabalhar como funcionário público federal”.

Pixinguinha, conta o neto, tocava o tempo todo. Compunha de modo quase compulsivo. Com isso, o filho também se envolveu muito com a música, DNA que impregnou o neto. Porém, Marcelo soube se distanciar.

“Jamais ser neto de Pixinguinha me atrapalhou ou teve qualquer viés negativo. Talvez porque eu tenha escolhido ser cantor. Se eu tocasse um instrumento de sopro, certamente haveria uma enorme cobrança. Na verdade, eu canto bem melhor do que meu avô (risos). Uso tudo o que ele fez como influência no meu trabalho. Onde vou ou me apresento faço questão de levantar essa bandeira, de mostrar quem era e o que fazia, maravilhosamente, o homem e o artista Pixinguinha”.

O maior problema, aposta o neto, é que o bom caráter do avô escondeu todo o seu talento, como um completo homem voltado à música.

“Essa coisa de ser uma boa alma o transformou em santinho. É dessa forma que até hoje muita gente ainda o define”.

Ser neto de Pixinguinha poderia ter trazido vantagens financeiras, digamos, para até quatro gerações dos Vianna. São mais de 400 obras. Mas isso, se a família fosse dos Estados Unidos, onde o patrimônio de um artista tem o devido reconhecimento.

“A família recebe os direitos autorais, mas não é de acordo com a importância da obra que ele criou e deixou. E tem ainda o fato de ele ter vivido em uma época em que isso não era muito importante. Quem veio depois, como nos anos 50/60, teve mais visibilidade e vantagens”.

Se um século depois, Carinhoso ainda nos serve (e pelo jeito, assim será até…) como expressão para o que sentimos mas não sabemos colocar no papel ou em palavras, seria possível quantificar seu valor? Aceito sugestões.

Fonte: A Tribuna

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